terça-feira, 8 de abril de 2014

MEDIDAS PERIGOSAS


Dados preocupantes

De acordo com os dados compilados pela OMC – Organização Mundial do Comércio – o fantasma do protecionismo está de volta, causando danos irreparáveis ao comércio internacional e, com isso, dificultando o incipiente ritmo de recuperação da economia globalizada que, nos últimos seis anos e com contadas exceções, mal tem conseguido evitar uma recessão catastrófica.   

No caso do G20 - as 20 maiores economias do mundo, incluso o Brasil, que respondem por praticamente 90% das trocas globalizadas – as medidas restritivas implantadas no biênio 2012-201 aumentaram pouco mais de 26%, seguindo um roteiro muito conhecido, assim descrito por Charles Edwin, reconhecido especialista da UNTAD: “Quando a economia mundial afunda, o monstro protecionista emerge com sua conhecida volúpia para eliminar todo e qualquer progresso nas relações comerciais entre as nações”.

Infelizmente, assim caminha (para trás) a humanidade. Não está demais lembrar que, em 1930, o Congresso dos EUA disparou o primeiro tiro na guerra protecionista que, para desencanto de seus idealizadores, trouxe mais lenha na fogueira que prolongou a Grande Depressão.  Foi a lei Smoot-Hawley, elaborada com o objetivo manifesto de proteger os empregos domésticos, que impediu a importação de 20 mil tipos de mercadorias e produziu uma bola de neve com retaliações em todas as partes, o que efetivamente estancou o comércio global. E, de vários modos, contribui para afundar ainda mais a economia mundial, que somente se recuperou com o formidável empurrão da II Grande Guerra, a partir de 1939.

No Fórum Econômico Mundial, em Davos, lideranças preocupadas enfatizaram a necessidade de procurar caminhos alternativos para que o mundo não tome um caminho semelhante ao dos anos 30. A tendência é preocupante, pois as perspectivas não são favoráveis para o comércio global, que patina na esteira do descalabro das grandes economias, Europa na cabeça. A última vez que isto aconteceu, além de uma breve derrapada em 2001, foi em 1982, quando a recessão atingiu as economias dos EUA e da Europa.
.O presidente do Reserva Federal de Dallas, Richard Fisher, desenhou em Davos um cenário assustador quando afirmou: ”O protecionismo é como o crack da cocaína (....) leva a morte econômica”.

Interesses encobertos

Mas não podemos subestimar a estupidez humana e muito menos as pressões protecionistas quando as economias estão vacilando, a produção interna despencando e o desemprego subindo. Ainda que de parte dos mandos dos governos exista o habitual superávit de boas intenções, na prática é fácil – e politicamente vantajoso - utilizar medidas protecionistas que podem ser “vendidas” à opinião pública – melhor, eleitores – ao preço de liquidação de benefícios no curto prazo, devidamente embalados em fartas promessas.   “Depois, no futuro, quando a fatura inevitavelmente chega, o problema já é de outros”.

Efeitos colaterais

Para todos os participantes no comércio internacional – exportadores, importadores, terminais de cargas, bancos, seguradoras, empresas de transporte, empresas de serviços logísticos, operadores, fabricantes de equipamentos, prestadores de serviços, etc. - isso liga uma luz vermelha anunciando tempos difíceis acarretados pela redução de atividades, com as conhecidas seqüelas clássicas no arrefecimento dos negócios.

Ponderando friamente a questão, nada mais justo que proteger empregos, capitais, soberania, tecnologia e o orgulho do “feito em casa”. Se elevar a proteção do mercado interno é a solução para solucionar problemas cruciais, nada a dizer.  Mas, o remédio tem que ser cuidadosamente dosado, não pode habituar o paciente e deve ter duração limitada. Porque, caso contrário, o doente (a economia) vai ter seu sofrimento mantido por muito, muito tempo.

Ou, em outras palavras: O comércio internacional é um via de duas mãos. O que significa, no final da história, que os benefícios obtidos pelas restrições às importações são anulados pelos problemas ocasionados no setor exportador, o que, como efeito colateral, aflige a capacidade de desenvolvimento sustentável do país. E, convenhamos, isso é muito, mas muito grave!