Dados preocupantes
De acordo com os dados compilados
pela OMC – Organização Mundial do Comércio – o fantasma do protecionismo está
de volta, causando danos irreparáveis ao comércio internacional e, com isso,
dificultando o incipiente ritmo de recuperação da economia globalizada que, nos
últimos seis anos e com contadas exceções, mal tem conseguido evitar uma
recessão catastrófica.
No caso do G20 - as 20 maiores economias do mundo, incluso
o Brasil, que respondem por praticamente 90% das trocas globalizadas – as
medidas restritivas implantadas no biênio 2012-201 aumentaram pouco mais de
26%, seguindo um roteiro muito conhecido, assim descrito por Charles Edwin,
reconhecido especialista da UNTAD: “Quando
a economia mundial afunda, o monstro
protecionista emerge com sua
conhecida volúpia para eliminar todo e qualquer progresso nas relações
comerciais entre as nações”.
Infelizmente,
assim caminha (para trás) a humanidade. Não está demais lembrar que, em 1930, o
Congresso dos EUA disparou o primeiro tiro na guerra protecionista que, para
desencanto de seus idealizadores, trouxe mais lenha na fogueira que prolongou a
Grande Depressão. Foi a lei Smoot-Hawley, elaborada com o objetivo
manifesto de proteger os empregos domésticos, que impediu a importação de 20
mil tipos de mercadorias e produziu uma bola de neve com retaliações em todas
as partes, o que efetivamente estancou o comércio global. E, de vários
modos, contribui para afundar ainda mais a economia mundial, que somente se
recuperou com o formidável empurrão da II Grande Guerra, a partir de 1939.No Fórum Econômico Mundial, em Davos, lideranças preocupadas enfatizaram a necessidade de procurar caminhos alternativos para que o mundo não tome um caminho semelhante ao dos anos 30. A tendência é preocupante, pois as perspectivas não são favoráveis para o comércio global, que patina na esteira do descalabro das grandes economias, Europa na cabeça. A última vez que isto aconteceu, além de uma breve derrapada em 2001, foi em 1982, quando a recessão atingiu as economias dos EUA e da Europa.
.O presidente do Reserva Federal de Dallas, Richard Fisher, desenhou em Davos um cenário assustador quando afirmou: ”O protecionismo é como o crack da cocaína (....) leva a morte econômica”.
Interesses encobertos
Mas não podemos subestimar a estupidez humana e muito menos as pressões protecionistas quando as economias estão vacilando, a produção interna despencando e o desemprego subindo. Ainda que de parte dos mandos dos governos exista o habitual superávit de boas intenções, na prática é fácil – e politicamente vantajoso - utilizar medidas protecionistas que podem ser “vendidas” à opinião pública – melhor, eleitores – ao preço de liquidação de benefícios no curto prazo, devidamente embalados em fartas promessas. “Depois, no futuro, quando a fatura inevitavelmente chega, o problema já é de outros”.
Efeitos colaterais
Para todos os participantes no comércio internacional –
exportadores, importadores, terminais de cargas, bancos, seguradoras, empresas
de transporte, empresas de serviços logísticos, operadores, fabricantes de
equipamentos, prestadores de serviços, etc. - isso liga uma luz vermelha
anunciando tempos difíceis acarretados pela redução de atividades, com as
conhecidas seqüelas clássicas no arrefecimento dos negócios.
Ponderando friamente a questão, nada mais justo que proteger empregos,
capitais, soberania, tecnologia e o orgulho do “feito em casa”. Se elevar a proteção do mercado interno é a
solução para solucionar problemas cruciais, nada a dizer. Mas, o remédio tem que ser cuidadosamente dosado,
não pode habituar o paciente e deve ter duração limitada. Porque, caso
contrário, o doente (a economia) vai ter seu sofrimento mantido por muito,
muito tempo.
Ou, em outras palavras: O comércio internacional é um via de duas
mãos. O que significa, no final da história, que os benefícios obtidos pelas
restrições às importações são anulados pelos problemas ocasionados no setor
exportador, o que, como efeito colateral, aflige a capacidade de
desenvolvimento sustentável do país. E, convenhamos, isso é muito, mas muito
grave!