quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A GRANDE AMEAÇA


O segundo semestre de 2012 vem confirmando a desaceleração do nível de atividade económica e, como é de praxe, trazendo o rosário de suas penosas secuelas, visíveis no aumento do desemprego,  na contração do comércio internacional, na diminução dos investimentos e no debacle financeiro, esse último um vilão tradicional, causante dos maiores disabores, que sempre está a postos para cumprir seu papel de aumentar os danos de qualquer crise que açoita o conturbado sistema de poduzir riqueza deste mundo globalizado.
Na verdade, isso nada mais é que uma extensão dos tropeços dos primeiros anos deste século - que podem ser considerados como um dos períodos mais conturbados da historia política/econômica das últimas seis décadas - na medida em que percorre seu caminho no tempo, tal qual cavalo sem freio, destruindo dogmas arraigados no saber convencional das sociedades organizadas, cujos membros – todos nós - são permanentemente fustigados por um vendaval de informações contraditórias, visões de um futuro incerto, sistemas tradicionais em colapso, valores éticos em franca decadência e, para piorar, tudo acontecendo no marco de uma queda acentuada na confiança de uma pronta recuperação para um padrão de vida superior, do qual grandes parcelas da população já estavam habituadas.
E tudo isso somado à descrença que os governos tenham capacidade para reverter esse estado calamitoso das coisas sem o sacrifício de grande parte da população, castigando desproporcionalmente os diferentes segmentos da sociedade e repetindo, uma vez mais, uma das pragas do sistema de produzir riqueza adotada desde a antigüidade pela humanidade: “O maior custo da solução das crises deve recair pesadamente sobre os segmentos que menos podem e menos tem”. 
 O dito se aplica de maneira especial à Europa e sua crise sem solução à vista, hoje a fonte mais evidente de instabilidade global, ainda que muitos países – incluso o Brasil com seus minguados 2% de crescimento anual que se arrastam há quase dois anos – naveguem sob um céu cinzento no meio das turbulências de economias que buscam um porto seguro para sair da ameaça de recessão.
E para os EUA, - que também escorregam nos seus 2% de evolução do PIB – que estão imersos no fragor de um debate eleitoral acirrado que coloca em confronto duas visões antagônicas para solução de seus graves problemas, sobretudo o de sua astronômica divida interna, continuamente alimentada pelo descontrole de um déficit fiscal em continua expansão. Sem dúvida, o calcanhar de Aquiles da maior economia do planeta e cujo tratamento, dependendo da solução adotada, representa uma ameaça de implicações inimagináveis que pende sobre o mundo.
No fundo, na verdade mesmo, a História é o bom senso ensinam a todos – nações, empresas, pessoas – que não é possível viver indefinidamente gastando mais do que se ganha. Um dia, essa gastança tem que findar.  Nos países, que ignoram essa regra da prudência e da boa gestão do governo, a conta adquire proporções fantásticas engordada pelos juros, pela corrupção e pela má utilização dos recursos públicos.
Isso impede que sejam implementadas muitas medidas de boa governança que poderiam eliminar problemas crônicos e melhorar substancialmente a qualidade de vida da população, além de contribuir diretamente para acelerar e dar sustentabilidade ao desenvolvimento.
 Infelizmente, o Brasil é um lamentável exemplo.




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

UM LONGO CAMINHO

 


Com base no Programa de Metas do Milênio estabelecido pelas Nações Unidas em 2000 para ser cumprido até 2015, foi recém lançado um Plano que deve investir 40 bilhões de dólares nos próximos três anos destinados a acelerar o cumprimento de um desses objetivos: Eliminar as desigualdades entre os sexos e valorização da mulher.

O inédito é que esse Plano foi aprovado por unanimidade com o aval dos 193 membros da Entidade, incluso daqueles países da Ásia e da África que ocupam os últimos lugares no respeito pelos direitos da mulher.
Em verdade, ainda que representando 51% da população mundial, a mulher não comparte de forma proporcional os benefícios da educação, da remuneração do trabalho, da condição social, do respeito e reconhecimento pela importância de seu papel na estrutura de nossa civilização, muito mais preocupada em manter, com unhas e dentes, os privilégios dos mais fortes. Fisicamente.
O uso da força, como expressão de superioridade, é o melhor modo de explicar, desde tempos imemoriais, o longo predomínio do homem (gênero) sobre a mulher(gênero). É claro que, para aqueles que sabem decifrar  os resquícios  pouco comentados da História, isso também pode ser interpretado como uma das tantas aberrações da passagem da humanidade pelo Planeta, ocupando um lugar destacado entre os mais notórios exemplos de injustiça e preconceito,  escorados em traços de religião, ignorância e, muito especialmente,  costumes de eras remotas

Através dos tempos, mais especificamente a partir da segunda metade do Século XIX, a mulher iniciava a longa luta – que continua até hoje – para não ser um utensílio a mais num mundo dominado pelos homens, tradicionalmente ciosos por manter-se no poder pela submissão daqueles mais próximos.

Um momento histórico, que pode considerar-se que como um marco na luta pelos direitos femininos, aconteceu na Inglaterra, em 1857, quando foi promulgada a Lei Matrimonial que outorgava à mulher o direito ao divórcio e a partilha dos bens do casal. “Muitos historiadores afirmam que isso aconteceu por influência da Rainha Vitória (1837-1901), que comandava na época o maior império da humanidade e cuja dimensão era sintetizada na famosa frase ‘‘No meu império jamais se oculta o sol”, o que, direta ou indiretamente, muito contribui para dar forma ao mundo no qual existimos.

Nessa longa jornada, merece menção a assinatura da Lei de igual salário para igual trabalho, assinada pelo Presidente Kennedy nos EUA, em 1963, ao tempo que a russa, Valentina Tereshkova, era a primeira mulher a permanecer quase três dias no espaço. Sozinha.

Como alguns dos marcos que assinalam a quebra de tabus seculares no Brasil, vale assinalar 
as figuras de Maria Augusta Generosa Estrela, que se formou em medicina em 1876 em Nova York, e Rita Lobato Velho Lopez, que recebeu sua diplomação de medicina em 1887 pela Universidade da Bahia. Ambas, sem dúvidas, corajosas pioneiras na luta das mulheres para ter acesso à educação superior. Resultado: Atualmente elas já ocupam mais de 50% das vagas nas universidades do País.

Também, entre as dezenas de milhares de mulheres muitos especiais que fizeram e fazem a odisséia da trajetória feminina no Brasil, podemos citar Maria Helena Lourenço dos Santos, fundadora e presidente da Cooperativa de Floricultores da Paraíba, que liderou um grupo de 21 mulheres paraibanas, protagonistas de um dos tantos exemplos de coragem, persistência e iniciativa que revelam um Brasil distante das mazelas da política e da hipocrecia sem limites que poluem o ar de Brasília.

Fundadoras e integrantes da Cooperativa de Floricultores da Paraíba, receberam o Prêmio de Experiências Sociais Inovadoras, outorgado pelo Banco Mundial, e o Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora da Região Nordeste.

Hoje, a produção de flores rende, para cada produtora, entre um e dois salários mínimos por mês, para alegria da presidente da Cooperativa, que afirma:"Ninguém acreditava  que um grupo formado apenas por mulheres, simples como nós, teria sucesso. O que nos salvou foi a união e a determinação na conquista deste sonho".

Em tempo,  num interessante exercício de futurologia, analistas concluem que até 2050 as mulheres alcançaram a sonhada igualdade e que metade dos países do mundo serão governados por mulheres.

Enfim, será apenas um ato de justiça.



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

UM PEDAGIO PLANETARIO

 
E bom lembrar que em 14 de dezembro de 2005 entrou em vigor a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, documento fundamental que cristaliza a preocupação do organismo internacional, depois de quase 67 anos de existência, com relação a um dos mais alarmantes malefícios da sociedade globalizada e que, abertamente ou às escondidas, cobra uma parcela importante da qualidade de vida de toda a humanidade e, pior ainda, faz mais distante o sonho de um futuro melhor para seus membros menos afortunados.


 Um dos aspectos mais importante desse acordo é que estabelece os mecanismos de cooperação entre seus membros para identificar e punir os responsáveis por essa praga, especialmente aqueles que se utilizam do sistema financeiro internacional para burlar a lei e tentar esconder o fruto de seus crimes.

A Transparência Internacional, uma das entidades lideres no combate a esse mal que aflige todos os países, ricos e pobres, grandes e pequenos, afirma que pode atribuir-se à corrupção, entre outros danos, pelo menos cinco epidemias que castigam o globo de forma impiedosa com seus efeitos catastróficos: 1) a facilitação e disseminação do comercio de drogas; 2) a existência e continuidade de conflitos armados; 3) a diminuição do ritmo e alcance do desenvolvimento econômico e social; 4)a corrosão da harmonia social, essencial para a convivência pacifica de seus diversos segmentos; 5) a descrença nas instituições e no sistema democrático de governo.

Ou, em soma: Mais pobreza, mais violência, mais sofrimento, menos segurança, menos esperança num futuro melhor.  De tudo, um Planeta menos feliz.

Esse flagelo anda sempre de mãos dadas com a total falta de ética e uma extraordinária capacidade para atuar camuflado. E, com uma desfaçatez impecável, seus adeptos mais conspícuos sabem muito bem disfarçar sua face repugnante trás uma fachada de imponência, esbanjando importância e soberba, fazendo questão em vender uma imagem pasteurizada do tipo “cidadão acima de qualquer suspeita”.

Entre seus aliados infalíveis e sempre dispostos a servir seus propósitos inconfessáveis, merecem destaque especial: a burocracia, em todos seus graus e formas; as leis, que esquecem a Justiça e o Interesse Público; a ambição e sua fiel aliada, o egoísmo, que destroem o caráter; as organizações, especialmente as grandes corporações, quando seus líderes carecem de códigos de moral; os costumes, que petrificam os maus hábitos no altar do “sempre foram assim”; os controles, que entronizam a fiscalização (e os fiscais), mas que deixam muito a desejar no cumprimento de suas funções; as autoridades, em todos os níveis, que sucumbem ao canto de sereia do dinheiro fácil.


Ainda, levada pelo redemoinho dos tempos modernos, a sociedade é outra cúmplice não menos importante desse opróbrio, desde que descuida, as mais das vezes, a necessidade de priorizar e insistir nos valores superiores do ser humano e deixa de utilizar seus instrumentos fundamentais: A família, a religião e a educação.

A redefinição do papel dessas instituições básicas da sociedade não é uma questão de escolha, senão uma resposta imperativa para tentar combater essa terrível ameaça que cobra um pedágio escandaloso das nações que transitam pelo Século XXI.




quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NA ESTEIRA DA CRISE


Um alentado estudo do londrino “The Economist” - desde 1843, uma das bíblias do pensamento econômico ortodoxo - analisa a crise que açoita as grandes economias do planeta destacando a seguinte questão: “Os governos não podem repetir os erros do passado e adotar medidas recessivas que possam contribuir para o aprofundamento da crise que pretendem combater. É importante injetar confiança nos mercados e buscar soluções que possam afastar a possibilidade de uma recessão de conseqüências inimagináveis”.
Sem condições de girar – honrar seus compromissos – suas dívidas, os governos agora correm com o pires na mão para o refugio representado pelo BCE (Banco Central Europeu), que tenta evitar que o “sangue chegue ao rio” com o agravamento da convulsão generalizada, contando às vezes com uma ”mãozinha amiga” do FMI.
Essa estória repete, ainda que com outros tons e acordes, o acontecido no final da década passada, quando a economia mundial foi sacudida pelo terremoto financeiro iniciado pela volúpia do consumismo e da especulação, convenientemente turbinados pelos subprime           – “créditos podres” - para alegria de uns poucos e a desgraça de muitos. E, como não podia deixar de acontecer, alimentado pela cobiça, a negligencia e a falta de controles adequados nos grandes atores do sistema financeiro.
Nos últimos anos não faltaram compromissos solenes para implementação de ações concretas para tentar domar o potro selvagem da especulação e o descontrole financeiro, muitas das quais sacramentadas nas Cumes dos G20 – as 20 maiores economias do mundo - e nas reuniões de organismos multilaterais, como o BM (Banco Mundial) e o IFI (Instituto de Finanças Internacionais), que têm insistido na necessidade de medidas firmes para evitar o descontrole das dívidas soberanas, administradas (?) pelos Ministérios de Fazenda – ou equivalentes – de cada país.
Nessa, os bancos vão juntos, porque os governos são uma fonte de lucros que não se pode desprezar e os títulos de dívida pública rendem excelentes resultados. Claro, desde que sejam resgatados nos termos contratados. Senão...
Contudo a política (os políticos) e os interesses falam mais alto e os resultados ficaram a anos luz das intenções e, mais lamentável ainda, foi convenientemente esquecido que alguns governos usavam os mecanismos de crédito e endividamento além de sua capacidade de honrar esses compromissos no futuro, exemplo de quase todas as economias da Europa, que olvidaram, no altar do populismo, as sabias premissas de prudência no trato das finanças públicas.
De tal modo, não pode causar muita estranheza o tamanho descomunal dessa confusão que ameaça a saúde econômica do planeta por seu efeito dominó e que, de forma impiedosa, começa a mostrar as garras sombrias de uma recessão na esteira dos números assustadores de desempregados, as primeiras vítimas da inépcia dos políticos que agora buscam, no desespero, medidas que afastem os fantasmas que eles mesmos deram à luz. 
Nunca está demais recordar que vivemos num mundo onde todos, de uma forma ou outra, dependem de todos. E que, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor intensidade, recebemos os efeitos, positivos ou negativos, daquilo que acontece pelo mundo afora.
De tudo isso, os anêmicos indicadores do desenvolvimento do Brasil nos últimos trimestres podem ser explicados, em parte, pelo que está acontecendo no restante do globo.