quinta-feira, 31 de julho de 2014

UM NOVO GRANDE BANCO



Novos paradigmas



Em 1944, no fragor infame da 2ª. Guerra Mundial, na conferência de Bretton Woods (EUA)  foi criado o Banco Mundial (BM) e suas instituições satélites –o  Fundo Monetário Internacional (FMI) é seu braço financeiro mais importante - que dominaram o mercado de investimentos e ajuda financeira para os países pobres e em desenvolvimento nos últimos 75 anos.

Nos tempos atuais, quando a globalização está liderando as profundas mutações econômicas e sociais pelas quais estamos passando, em Julho de 2014, em Fortaleza (Brasil), na 6ª. Cume dos BRICS – fórum que reúne Brasil, Rússia, índia, China e áfrica do Sul - bate o martelo, após dois anos de negociações, e criam seu próprio banco de desenvolvimento, o NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO (NBD) que, em princípio, será um concorrente de peso do BM, sinalizando claramente a chegada de um tempo de mudanças, que, entre outras conseqüências, pode ser o primeiro grande passo para a monumental construção de um mercado livre Sul-Sul, projeto que tem na China um advogado tenaz e conseqüente.

O bloco tem credenciais impressionantes: Reúnem 3,0 bilhões de habitantes, 43% da população mundial; seu PIB (Produto Interno Bruto) já ultrapassa os US$13 trilhões, 16% do total global e, pelo andar da carruagem, deve ultrapassar àquele dos EUA - e também o PIB da UE - possivelmente bem antes de 2020; três deles - China, Rússia e Índia - são potências atômicas e incursiona agressivamente na conquista espacial; possuem recursos naturais imensos, especialmente o Brasil, que apenas devem ser explorados racionalmente e com respeito integral ao meio ambiente; seu imenso território conjunto, de mais de 44 milhões de Km2, é quase cinco vezes maior que a superfície dos EUA; o crescimento de sua economia é, de longe, aquele que dá a maior contribuição ao desenvolvimento mundial; e, de um modo ou outro, com exceção da Rússia, compartem o mesmo passado de dominação e exploração por parte dos países mais ricos, o que, de muitas maneiras, contribui para uma visão diferenciada da realidade e dos mecanismos para solução dos graves problemas que afligem a humanidade.

Uma mudança significativa

Mudando o eixo EUA-Europa no jogo do poder mundial, fica ainda mais evidente a possibilidade de fragmentar muito mais a governança planetária, com novas particularidades de confronto de interesses e com a expectativa de que essa nova entidade financeira internacional contribua diretamente para combater o presente “assimetria econômica” e abra caminho para um desenvolvimento sustentável e mais acelerado dos países emergentes. 

Os “5” chegaram a um acordo – para muitos observadores com um amplo sentido histórico – que, a diferença do BM cuja liderança é sempre dos países ricos e cujo presidente é escolhido pelos EUA, existem claros princípios de igualdade entre seus participantes do NBD, que terá uma presidência rotativa, escolhida a cada cinco anos, sendo a Índia a primeira a exercer a esse cargo, seguido pelo Brasil, Rússia, África do Sul e China.

Outros cargos chaves nesse primeiro período ficam com o Brasil, que indicará o primeiro presidente do Conselho de Administração e com a Rússia, que exercerá a presidência do Conselho de Governadores. A sede do banco será em Xangai – que já está entre os três maiores centros financeiro do mundo – e a África do Sul vai sediar o Centro Regional Africano, lembrando que o continente africano alberga o maior número de países clientes em potencial da nova entidade.

Agora, esperar para ver como o NBD vai minar o poder tradicional e contribuir realmente para a construção de um mundo mais justo e de paz.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

FELICIDADE=DESENVOLVIMENTO



Criando riqueza
O saber econômico convencional, do alto de seu comodismo tradicional e dos interesses camuflados que acoberta, teima em comparar a grandeza das nações apenas pelo tamanho de seu Produto Interno Bruto (PIB), medida (aproximada) de toda a riqueza produzida num país ou região num determinado período de tempo. Esclarecendo, riqueza material, concreta, que pode ser estabelecida em unidades monetárias e que pode ser refletida num valor que depois é transformado pela cotação referencial de uma moeda de aceitação geral. No geral, o dólar americano.

De modo simplificado, os seres humanos – que são quem integram os países, não esquecer – são apenas insignificantes elos de uma corrente sem fim que produzem, consomem e se utilizam dos meios disponíveis para sua sobrevivência. Claro, na sua função de produzir, também podem ser substituídos por robots!
Na alucinação de uma vida cada vez melhor todas as nações buscam aumentar em taxas cada vez mais elevadas a produção de riqueza, - até quanto, existem limites?  - resumidas em mais desenvolvimento

Ate aí, tudo (parece) bem, sendo – mais ou menos – visíveis as vantagens implícitas desses resultados positivos que, aliás, é fartamente elogiadas e divulgadas por todos os porta vozes do saber convencional, vulgo “sistema econômico & financeiro” que rege as coisas materiais desse nosso mundo globalizado.

Mas, muitos perguntam: É suficiente?  Isso resume e acolhe as aspirações humanas? Até que nível de riqueza mundial o planeta pode suportar o saque crescente de seus recursos naturais?

Quem sabe a luz emane das acertadas reflexões de John K. Galbraith, um dos maiores pensadores do Século XX: “O desenvolvimento é mais que o crescimento ou a queda da renda nacional. É muito mais a criação de um ambiente no qual as pessoas possam desenvolver todo seu potencial e conduzir suas vidas segundo suas necessidades e interesses. Desenvolvimento significa expansão das possibilidades de escolha daquilo que as pessoas valorizam e isso é muito mais que o crescimento da economia, por mais importante que isso seja”.

A Felicidade Interna Bruta(FIB)

Enquanto bilhões de pessoas se debatem aflitas nesse início de Século XXI sem conseguir enxergar o final desses tempos de infortúnio, marcados pelo andar vacilante da economia globalizada somado ao deterioro das relações internacionais o Butão, um pequeno reino budista no alto das montanhas do Himalaia, entre a índia e a China, com 700 mil habitantes, afirma estar trabalhando numa resposta.

"Ganância, a insaciável ganância humana", ressalta o primeiro-ministro do Butão, Jigme Thinley, descrevendo o que considera a causa da catástrofe econômica do mundo. E continua: "O que precisamos é de mudança, precisamos de um desenvolvimento que tenha como base a felicidade interna bruta."

Conceito absolutamente revolucionário e inovador que joga para o escanteio séculos de tradição econômica material, inserida solidamente nas diferentes doutrinas que tentam mensurar o crescimento da riqueza de um país.

E Jigme Thinley acrescenta se referindo à crise econômica mundial: "Você está vendo no que dá a completa dedicação ao desenvolvimento econômico tradicional. As sociedades industrializadas decidiram agora que o PIB é uma promessa quebrada."
Kinley Dorji, secretário da Informação e Comunicação do Butão, revela: “Agora, os butaneses estão refinando a filosofia norteadora no que eles consideram uma nova ciência política, que amadureceu em uma política governamental num momento em que o mundo pode precisar dela, que sintetizamos na Felicidade Interna Bruta (FIB)”.

Sob uma nova Constituição, programas do governo - da agricultura ao transporte e ao comércio exterior - devem ser julgados não só pelos benefícios econômicos que podem oferecer, mas também pela felicidade que produzem.

O objetivo não é a felicidade em si, o primeiro-ministro explicou um conceito que cada pessoa deve definir por si mesma. Ao invés disso, o governo objetiva criar as condições para o que ele chamou de “uma versão atualizada da Declaração de Independência americana, na forma de um sistema de conceitos e padrões que possam ser quantificados e medidos pelos grandes atores da economia mundial”. Por isso os butaneses produziram um elaborado modelo de bem-estar que conta com quatro pilares, nove domínios e 72 indicadores de felicidade.

Especificamente, o governo determinou que os quatro pilares de uma sociedade feliz envolvem economia, cultura, meio ambiente e boa governança. Eles se dividem um nove domínios: bem-estar psicológico, ecologia, saúde, educação, cultura, padrões de vida, uso do tempo, vitalidade comunitária e boa governança, cada um com seu próprio peso no índice da FIB.

Enfim, de muitos modos tudo isso é digno das mais profundas reflexões e intensos debates para verificar sua ligação com nossas aspirações, o que faz dessa nova visão do desenvolvimento um matéria relevante na busca de novos caminhos para alcançar o paradigma de um mundo melhor. Para todos.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

O REAL SALVADOR


20 anos

Em 1º. de Julho de 1994 foi efetivamente iniciada a implantação do “REAL” como moeda oficial do Brasil, marcando o início de uma reviravolta extraordinária no combate à inflação que já passava dos 45% mensais e que nos últimos 30 anos tinha destroçado, sem piedade e sem trégua, a estrutura econômica e social do País.

Só como medida e exemplo, no período 1965–1994 o Brasil tenha registrado a maior inflação da história econômica do mundo, com um aumento de preços medido em quatrilhões, apenas comparável à hiperinflação alemã de 1920. Um absurdo de magnitude inimaginável!

È claro que perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período, cada uma devorando três dígitos da moeda nacional, que perdeu qualquer condição de medir o valor real das coisas e servir de referencia confiável para realizar negócios e estabelecer preços e propriedade. Claro, para uma ínfima parcela da população restou, como pálida referencia, a cotação do dólar.

Entre as distorções avassaladoras provocadas por essa hiperinflação – chamada de “o mais injusto de todos os impostos” por John K Galbraith – está seu efeito desastroso sobre a renda da maioria das pessoas desde que, proporcionalmente, os que menos ganham sofrem mais seus efeitos demolidores. Em resumo, os que menos têm ficam mais pobres e, na contramão, os que mais têm usam seu poder financeiro - propriedades, reservas em dólares, contas no exterior, juros, etc. - para ampliar ou, pelo menos, manter sua fortuna.

De muitos modos, isso também ajuda explicar porque o Brasil está posicionado no mundo entre os cinco países de maior desigualdade na distribuição da riqueza.

O PLANO REAL

O ponto de partida pode situar-se em maio de 1993, quando o então presidente Itamar Franco entregou o cargo de Ministro da Fazenda a Fernando Henrique Cardozo, com a missão principal de eliminar a inflação ou, pelo menos, reduzir-la substancialmente. O novo ministro reuniu um grupo de destacados economistas para elaborar um plano com tal finalidade, onde eram figuras de destaque Pércio Aruda, André Lara Resende, Gustavo Franco Rocha, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Wiston Fritsch que, com toda justiça, ganharam depois o apodo de “Pais do Plano Real”.

No fundo, tratava-se de vencer um inimigo muito poderoso que, entre outras defesas, contava com o imenso poder dos grupos que lucravam com o mercado de capitais; com a descrença derivada do fracasso de planos anteriores; com as divergências sobre as causas e os remédios para curar esse mal que ameaçava a própria existência da Nação; com a crença convencional resumida em “o Brasil é assim mesmo”.

O primeiro grande passo para cumprir a meta de estabilização foi estreado em Fevereiro de 1994 com a publicação da Medida Provisória No. 434 que instituía a Unidade Real de Valor (URV), assim como estabelecia regras de conversão e uso de valores monetários iniciando a desindexação da economia e determinando o próximo lançamento de uma nova moeda, o Real.

Pouco mais de quatro meses depois no seu lançamento como moeda de uso corrente, o Real foi acompanhado de uma sólida e bem estruturada série de medidas complementares que pretendiam servir de apoio ao programa de combate contínuo e sem tréguas ao flagelo da inflação e contribuir para acelerar o processo de desenvolvimento.

Plano Real mostrou-se nos meses e anos seguintes o plano de estabilização econômica mais eficaz da história, reduzindo a inflação e colaborando, de forma decisiva, para modernizar a estrutura economica e social.  E, sem dúvida, contribuindo para resgatar uma posição destacada do Brasil entre as principais nações desse nosso mundo globalizado.