O mercado - ou melhor, os interesses daqueles que mais podem - é o que predomina nesse nosso mundo
globalizado e que se rege, de modo implacável, pela concorrência e não pela
cooperação. Isso é natural, desde que o que se busca é a maximação dos
benefícios, não o bem comum de toda uma sociedade. E como geralmente ensinam os
fatos, estes resultados são alcançados à custa da devastação da natureza e da
gestação perversa de desigualdades sociais, malefícios aos que devem somar- se
uma escolta sombria de efeitos colaterais.
Até porque, sem medir as
consequências para o bem estar e o futuro da sociedade, tudo pode ser levado ao
mercado: água, os alimentos, o vestuário, a saúde, a educação, o esporte,
as artes, o entretenimento, o sexo, a política, as religiões, a ética, a
tecnologia, a segurança, os meios de morte e destruição, enfim, a lista de
“bens” comercializáveis é interminável e fazem o júbilo do “sistema”.
Essa forma de organizar a
sociedade cindiu a humanidade de cima a baixo: Por um lado, criando um fosso
enorme entre os poucos ricos e os muitos pobres – símbolo máximo da injustiça social -e, por outra parte, se
criou também uma iníqua injustiça ecológica. Assim, no afã de
acumular, foram explorados de forma predatória bens e recursos,
sem qualquer limitação e respeito. O que se busca é o enriquecimento
cada vez maior para consumir mais intensamente, esquecendo nessa volúpia que os
recursos da Terra são finitos e que a Natureza passa, mais cedo ou mais tarde,
sua fatura.
A crise dos tempos atuais, como
tantas outras no passado, podem melhor ser analisada observando as implicações
desses dois nefastos paradoxos que põem em dúvidas a capacidade de governança
dos sistemas políticos que, por ofício, deveriam evitar sua existência, evolução
e consequências.·.
E, como não podia deixar de acontecer, para pôr
mais lenha na fogueira, sempre alimentada1 pela cobiça, a negligencia e a falta
de controles adequados nos grandes atores do sistema financeiro.
Nos últimos anos não faltaram compromissos solenes para implementação de ações concretas para tentar domar esses desc2ontroles, muitos das quais sacramentadas nas Cumes dos G20 – as 20 maiores economias do mundo - nas reuniões de organismos multilaterais, como as Nações Unidas, assim como nos discursos de prestigiosas lideranças políticas que têm insistido na necessidade de medidas firmes para evitar o agravamento dessa anarquia na nossa caminhada para o futuro.
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Contudo, a política (os políticos) e os interesses falam, em geral, mais alto e os resultados ficaram há anos luz das intenções e, mais lamentável ainda, foram também convenientemente esquecidos por alguns governos de grandes países, muito mais preocupados em resguardar posições conflitantes e que, para alegria de alguns, servem muito bem para aumentar a venda de armas e todo tipo de sistemas de destruição.
Nunca está demais recordar que vivemos num espaço da galáxia onde todos, de uma forma ou outra, dependem de todos. E que, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor intensidade, recebemos os efeitos, positivos ou negativos, daquilo que acontece pelo mundo afora.
De tudo isso, os anêmicos indicadores do desenvolvimento do Brasil nos últimos tempos podem ser também explicados, em parte, pelo que está acontecendo no restante do globo. Mas, atenção: Somente em parte!