Panorama desolador
Uma avalanche de dados e informações provenientes de
respeitáveis organismos internacionais confirma um aumento assustador da
desigualdade global, fato que pode sintetizar-se na chocante comparação de que
85 das pessoas mais ricas de nosso planeta ganham anualmente o mesmo que os 3,5
bilhões – 50 % da população mundial – dos mais pobres. E também que as três
pessoas mais ricas do mundo reúnem uma fortuna equivalente àquela de 600
milhões de pessoas de 85 países do terceiro mundo.
Dá para acreditar tamanha discrepância? Bem, quem afirma
isso é a OXFAM INTERNATIONAL, uma das mais prestigiosas organizações
internacionais que ajudam no combate à fome e á pobreza no mundo. E que, entre
outras credenciais, é uma entidade assessora das Nações Unidas sobre esses
temas.
Outro registro: o
Escritório do Orçamento do Congresso dos EUA publicou um relatório que revela
que nos últimos 30 anos a parcela dos cidadãos mais ricos dos Estados Unidos
quase triplicou sua renda, enquanto as famílias mais pobres viram seu
patrimônio crescer apenas 18% no mesmo período!
Joseph
Stiglitz, Premio Nobel de Economia,
afirmou em recente artigo no New York Times: “Desde os anos 80, o capitalismo foi fortemente desregulado ao estilo
americano, logo imitado pelos demais países ricos. Na verdade, a promoção dessa
ideologia trouxe bem-estar material para os ricos do mundo, enquanto os demais
viram sua renda estagnar ou diminuir ano
após ano".
Complemento: As Nações Unidas mostram no seu informe anual
que o aumento das desigualdades de ingressos em todo o mundo é um dos fatores básicos
que contribuem para ampliação do conjunto calamitoso das mazelas sociais –
violência, consumo de drogas, prostituição, corrupção, impunidade, insegurança,
racismo, descrença nos valores éticos, desemprego, etc. – que travam um
desenvolvimento contínuo, sustentável e livre de crises, essencial para conservar
uma condição de vida que mantenha viva a esperança de um futuro melhor.
Davos
No recente Fórum Econômico Mundial de Davos, celebrado sob o
marco da análise das causas e conseqüências da desigualdade planetária, o secretário
geral da OXFAM, Ricardo Fuentes-Nieva, na presença de uma boa parte da elite mundial,
ressaltou o risco que enfrenta a humanidade em conseqüência dessa injusta
distribuição da riqueza, destacando: “Nas
últimas três décadas o abismo que separa os rendimentos dos mais ricos do
restante da humanidade ganhou as dimensões de um flagelo intolerável, o que tem
levado a uma ameaçadora ruptura social, palpável quando parcelas
crescentes da população passam a desacreditar nos governos, na democracia e nos
valores humanísticos.É importante lembrar que isso é o primeiro passo para o crescimento
de extremismos, cujas implicações nefastas a Historia é abundante em exemplos que marcaram, sempre de
modo trágico, situações insuportáveis pelas maiorias”.
Nada mais irrefutável que o desafio enviado pelo papa
Francisco aos 2.500 participantes do Fórum: "Eu lhes peço que assegurem que a humanidade seja servida pela riqueza,
e não comandada por ela", disse o papa na mensagem lida na cerimônia
de abertura pelo cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho
Justiça e Paz. E prossegue: "A
ampliação da igualdade requer algo mais do que crescimento econômico, mesmo que
ele seja o pressuposto para isso. Demanda em primeiro lugar uma visão
transcendente da pessoa. Requer também decisões, mecanismos e processos
direcionados a uma melhor distribuição da riqueza, à criação de fontes de
emprego e a uma promoção integral do pobre que vá além da simples mentalidade
do bem-estar social."
Em tempo: A crescente disparidade de renda e a conseqüente
revolta social foram apontadas como a maior ameaça ao mundo, de acordo com o
relatório anual "Riscos Globais
2014", publicado pelo Fórum Econômico Mundial.
No encerramento do evento, quem sabe com a consciência mais
que pesada, sobraram declarações dos mais ricos do planeta sobre a necessidade
urgente de acionar mecanismos para tentar diminuir essa sombria injustiça.
Tomara que sejam sinceros!