sábado, 22 de setembro de 2012

FIOS DA MEADA

OCCUPY WALL STREET Um ano atrás, mais precisamente em 17/09/2011, aconteceu um fato inimaginável que estremeceu Wall Street, a rua-símbolo do “sistema liberal&capitalista”, quando milhares de manifestantes, num movimento espontâneo, ocuparam a famosa rua para protestar contra as injustiças do modelo econômico&financeiro, aos gritos de “o dia inteiro, a semana inteira, fechar Wall Street”.  All day, all week, shut down Wall Street!
O movimento, que se estendeu pelas principais cidades dos EE. UU e da Europa, foi apenas um clamor a mais nascido das incongruências do sistema de produzir e distribuir riqueza no mundo globalizado, onde poucos, continuamente, acumulam a maior parte dos benefícios de esse estado das coisas.
Na verdade, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, a imensa maioria das pessoas paga um pesado tributo da subserviência inevitável ao “sistema”, espremidas nas engrenagens de um modelo que mal entendem, mas que marca presença nas suas vidas desde o momento de seu nascimento. Alias, melhor, desde antes.
Ainda assim, para efeitos práticos, não foi mais que outro clamor que o vento levou e que, quem sabe no futuro, ajude a tentar mudar o rumo da forma de distribuir a riqueza da humanidade.
DESPERDICIO O diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, em discurso na Universidade de Lisboa, reprovou a crença no princípio de que quem não trabalha não come, regra que vem da antiguidade romana e que, ainda hoje, para milhões de infelizes pelo mundo afora, é a dura realidade do dia-a-dia.
Agora, pasmem: Relatório da FAO informa que o desperdício de alimentos entre a produção e o consumo representa cerca de 1,3 bilhões de toneladas por ano no mundo, o equivalente a um terço de a produção alimentar para o consumo humano!
O estudo da FAO coloca o dedo na ferida quando assinala que o desperdício na mesa dos que estão em países de renda elevada - Europa e Estados Unidos são exemplo – somado à melhoria nos métodos de produção, armazenagem e transporte, seria suficiente para alimentar os 7, 050 bilhões de habitantes do planeta, sem que quase um 20% passem fome.
Graziano, lembrando o sucesso do Brasil nesse quesito, que é uma das metas do Milênio das Nações Unidas a serem cumpridas até 2015, insistiu: ”É possível, sim, erradicar a fome. Para isso, é preciso ter esse objetivo como prioridade política e ter a vontade de fazer”.
CARROSSEL A fome não deveria existir. A ninguém interessa – suas vítimas, sociedade, governos, detentores do poder econômico, empresas, etc. – pôr o descoberto essa prova gritante da falha do sistema econômico, seja qual seja aquele vigente sob a tutela do poder político de plantão.
O Dr. Amartya Sen, famoso economista hindu, estudioso dos problemas da fome – seu livro Pobreza e Fome é um clássico imperdível - sobre a economia da índia, país que tem uma trajetória milenar de luta contra esse flagelo, insiste em lembrar uma simples equação para resumir o impacto econômico e social dessa ocorrência, deixando de lado, por um momento, aspectos humanitários e fazendo abstração à dor e ao sofrimento: “A pessoa com fome não produz, mal sobrevive, é um paria social e um fardo econômico que tem que ser carregado pelo resto da sociedade. É, em soma, um freio ao desenvolvimento natural das coisas Por outra parte, a pessoa alimentada, sem fome, é um agente econômico fundamental, produz riqueza, depende de seu próprio esforço para sobreviver e sustentar sua família. È um elo essencial na engrenagem que move o progresso da nação”.

Como isso é verdade, é de estranhar que muitos governos – e seus políticos – não dediquem mais esforço e recursos para erradicar esse açoite que castiga impiedosamente uma parte dos habitantes da Terra.
CLIMA A pior seca nos EE. UU. nos últimos 56 anos e colheitas abaixo do normal na zona produtora do Mar Negro – Ucrânia, Rússia - estão afetando severamente os preços dos cereais, notadamente soja e milho, básicos na alimentação animal, fazendo acender a luz amarela nos organismos internacionais frente ao perigo de uma alta severa nas cotações  dos alimentos -  como a de 2007/2008, a mais recente - que afetou seriamente sua distribuição nas regiões mais necessitadas do mundo.
A Oxfam International, uma das ONGs líderes a nível planetário no combate à pobreza e a fome, adverte “sua seria preocupação frente a uma possível escassez e elevação do preço dos alimentos a nível mundial, lembrando que a crise de 2008 aumentou o numero de afligidos por fome crônica em 75 até 160 milhões de pessoas”.
O Índice de Preços dos Alimentos compilado pela FAO, que mede a evolução mensal de preços de uma cesta básica de cereais, oleaginosas, lácteos, carne e açúcar, atingiu um índice de 213 em Agosto/2012, ainda abaixo dos 238 alcançados no pico em Fevereiro/2011, quando a elevação dos preços ajudou a pôr lenha na fogueira da Primavera Árabe e avivou revolta em muitos países.
(Para não esquecer: Nos bastidores, as corretoras e multinacionais que mantêm posições em commodities agrícolas, cruzam os dedos sorridentes. Ao final das contas, o biênio 2012/2013 pode ser bem melhor do esperado!).







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