sexta-feira, 15 de novembro de 2013

UMA NOVA GUERRA FRIA


Um dos resíduos mais horrendos que surgiram na esteira da II Guerra Mundial foi a sinistra aliança englobada sob a denominação de complexo industrial-militar que manobra nos obscuros bastidores do poder para gerar negócios suculentos, usando como pano de fundo os conflitos, internos e externos, matéria prima essencial para aumentar a venda de armas letais.

Durante a Guerra Fria essa aliança foi decisiva para salvaguardar os interesses das grandes nações que mantinham o mundo em suspense pela força, ou ameaça de seu uso, ou pela simples possibilidade de abrir uma vez mais as portas do inferno, mantendo à população mundial na corda bamba  por mais de 40 anos, até a derrubada do Muro de Berlin, em Novembro de 1989.

Tempos aziagos que criaram sua própria legião de monstros, tecnológicos e humanos, conduzindo os adversários da época, numa paranóia alucinante, a acumular armamentos e sistemas sofisticados de extermínio em massa suficientes para eliminar 50.000 vezes (cinqüenta mil, mesmo!) toda a vida do planeta. Dá para entender?

Também, período de grandes negócios e ainda de mais fabulosas negociatas e falcatruas monumentais. Ultimamente, infelizmente para nós, mas para alegria do complexo militar-industrial e dos vendedores de armas associados, o negócio está voltando aos tempos áureos das décadas dos 60-70-80, quando também o Brasil fazia, orgulhosamente, parte do seleto clube de exportadores de armas, chegando ao “honroso” 8º lugar entre os maiores do planeta.

Teoricamente, somos um país que prega a paz como uma das conquistas mais preciosas de nosso tempo.. Na Constituição, nos anseios do povo, nos fatos e nos dizeres de seus dirigentes,  é clara a postura do Brasil e seu apego aos valores mais caros da raça humana. Ouvido, seguido e respeitado internacionalmente, nosso País confirma sua vocação pacifista, perfilando-se como uma das grandes esperanças para a construção de um futuro de harmonia entre as nações.

O que não dá para entender, politicagem e interesses inconfessáveis aparte, são as declarações que afirmam a necessidade de incentivos para o setor bélico nacional com o objetivo maior de...melhorar nossa pauta exportadora. Em outras palavras: Será que necessitamos fabricar e exportar armas para ganhar espaço no comércio internacional?

Fico a pensar que será no mínimo interessante observar as reações internacionais quando representantes oficiais brasileiros, em qualquer fórum do mundo, reiterem a defesa ao reinado da paz e dos direitos humanos, fustigando a hipocrisia das nações ricas, especialistas em aplicar a máxima “façam o que eu digo, não o que eu faço”.  E todos  sabendo que,  no mesmo momento, os vendedores de armas barganham os instrumentos de morte “made in Brasil”.  No mínimo, perdemos credibilidade e respeito, interna e externamente, além da oportunidade de fazer a diferença num mundo conturbado.

Até porque, no momento que o Brasil passa a privilegiar a venda de armamentos como um instrumento para aumentar suas exportações, desconsiderando o fato que os “clientes” são, em geral, ditaduras costumasses na violação dos direitos humanos, engrossa a fileira que, observem bem, tem os primeiros lugares cativos pelos ‘grandes” -  EUA, França, Reino Unido, Rússia e China - que produzem 90% das armas do planeta e são responsáveis por 70% das exportações de itens letais e que, ano após ano,  apresentam “novidades” cada vez mais mortíferas e destruidoras, superando largamente àquelas guardadas nos arsenais da Guerra Fria. (Dados da Transparência Internacional).

Em um histórico discurso em Washington, em Abril de 1963, o ex-comandante em chefe das forças aliadas na Europa durante a Segunda Guerra e duas vezes presidente dos EUA, Dwight Einsenhower, advertiu:  “Cada arma fabricada, cada foguete disparado significa no final um roubo para aqueles que tem fome e não tem o que comer, para aqueles que tem frio e não tem abrigo. O mundo das armas não está apenas gastando mal nossa riqueza. Está isso sim desperdiçando o trabalho de nossos operários, a genialidade de nossos cientistas, a capacidade de nossos engenheiros, as esperança de nossas crianças. Temos que admitir o erro fenomenal de tudo isso. Debaixo da nuvem das ameaça de guerra existe um mundo pendurado numa cruz de ferro”.

Mas eles, EUA, França, Reino Unido, Rússia e China, do alto de sua imponência,  também pregam a paz e a convivência pacífica entre os povos. Que juram que defendem os valores da vida e condenam os conflitos entre as nações. Que são – ironia suprema! - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, organismo superior do poder globalizado e que (teoricamente) tem como missão fundamental a manutenção da paz!

 Haja hipocrisia!






Nenhum comentário:

Postar um comentário