Um dos resíduos mais horrendos que surgiram
na esteira da II Guerra Mundial foi a sinistra aliança englobada sob a
denominação de complexo
industrial-militar que manobra nos obscuros bastidores do poder para gerar
negócios suculentos, usando como pano de fundo os conflitos, internos e
externos, matéria prima essencial para aumentar a venda de armas letais.
Durante a Guerra Fria essa aliança foi
decisiva para salvaguardar os interesses das grandes nações que mantinham o
mundo em suspense pela força, ou ameaça de seu uso, ou pela simples possibilidade
de abrir uma vez mais as portas do inferno, mantendo à população mundial na
corda bamba por mais de 40 anos, até a
derrubada do Muro de Berlin, em Novembro de 1989.
Tempos aziagos que criaram sua própria
legião de monstros, tecnológicos e humanos, conduzindo os adversários da época,
numa paranóia alucinante, a acumular
armamentos e sistemas sofisticados de extermínio em massa suficientes para
eliminar 50.000 vezes (cinqüenta mil, mesmo!) toda a vida do planeta. Dá para
entender?
Também, período de grandes negócios e ainda
de mais fabulosas negociatas e falcatruas monumentais. Ultimamente, infelizmente
para nós, mas para alegria do complexo
militar-industrial e dos vendedores de armas associados, o negócio
está voltando aos tempos áureos das décadas dos 60-70-80, quando também o
Brasil fazia, orgulhosamente, parte do seleto clube de exportadores de armas,
chegando ao “honroso” 8º lugar entre os maiores do planeta.
Teoricamente, somos um país que prega a paz
como uma das conquistas mais preciosas de nosso tempo.. Na Constituição, nos
anseios do povo, nos fatos e nos dizeres de seus dirigentes, é clara a postura do Brasil e seu apego aos
valores mais caros da raça humana. Ouvido, seguido e respeitado
internacionalmente, nosso País confirma sua vocação pacifista, perfilando-se
como uma das grandes esperanças para a construção de um futuro de harmonia
entre as nações.
O que
não dá para entender, politicagem e interesses inconfessáveis aparte, são as declarações
que afirmam a necessidade de incentivos
para o setor bélico nacional com o objetivo maior de...melhorar nossa pauta
exportadora. Em outras palavras: Será que necessitamos fabricar e exportar
armas para ganhar espaço no comércio internacional?
Fico a pensar que será no mínimo
interessante observar as reações internacionais quando representantes oficiais
brasileiros, em qualquer fórum do mundo, reiterem a defesa ao reinado da paz e
dos direitos humanos, fustigando a hipocrisia das nações ricas, especialistas
em aplicar a máxima “façam o que eu digo, não o que eu faço”. E todos
sabendo que, no mesmo momento, os vendedores de armas barganham os
instrumentos de morte “made in Brasil”. No mínimo, perdemos credibilidade e
respeito, interna e externamente, além da oportunidade de fazer a diferença num
mundo conturbado.
Até porque, no momento que o Brasil passa a
privilegiar a venda de armamentos como um instrumento para aumentar suas
exportações, desconsiderando o fato que
os “clientes” são, em geral,
ditaduras costumasses na violação dos direitos humanos, engrossa a fileira
que, observem bem, tem os primeiros lugares cativos pelos ‘grandes” - EUA, França, Reino Unido, Rússia e China - que
produzem 90% das armas do planeta e são responsáveis por 70% das exportações de
itens letais e que, ano após ano, apresentam
“novidades” cada vez mais mortíferas e destruidoras, superando largamente àquelas
guardadas nos arsenais da Guerra Fria. (Dados da Transparência Internacional).
Mas eles, EUA, França, Reino Unido, Rússia
e China, do alto de sua imponência, também pregam a paz e a convivência pacífica
entre os povos. Que juram que defendem os valores da vida e condenam os
conflitos entre as nações. Que são – ironia suprema! - os cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança das Nações Unidas, organismo superior do poder
globalizado e que (teoricamente) tem como missão fundamental a manutenção da
paz!
Haja hipocrisia!
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