terça-feira, 3 de março de 2009

MEMÓRIA FRACA

Dizem que quando a “burrocracia” não sabe o que fazer e anda a esmo pelos corredores infindáveis do “sistema” que mantêm zelosamente, termina dando tiro no próprio pé.

No caos da crise globalizada, Argentina levanta a bandeira do protecionismo como mecanismo necessário para reduzir ou eliminar a entrada de centenas de produtos importados e assim tentar dar alento para alguns de seus setores industriais menos competitivos. Isso, para zanga de seus vizinhos do Mercosul e tristeza dos consumidores argentinos que são assim impedidos de comprar produtos mais baratos, diferentes e melhores as mais das vezes. Na prática, as medidas restritivas devem afetar uns 20% do fluxo comercial Brasil-Argentina e tem um grande potencial para dar início a um novo período de tensão nas relações entre os dois países, sem excluir represarias por parte do Brasil.

Péssimo momento, desde que em poucas semanas teremos a Cúpula dos G-20 – as 20 nações mais poderosas do mundo – que deve sacramentar medidas de consenso para diminuir os efeitos da crise global e indicar alternativas para a recuperação da frágil economia planetária.

Nesse fórum privilegiado, posições harmonizadas entre os dois representantes da América do Sul, participantes do evento, são cruciais para ganhar influência, representatividade e respeitabilidade.

É inegável que as relações entre ambos os países são tumultuadas, difíceis, com altos e baixos, exigindo até o máximo o talento de diplomatas, políticos e negociadores que, infelizmente, nem sempre podem contar com o bom senso e a compreensão das lideranças empresariais, representados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) do lado brasileiro, e UIA (Unión Industrial Argentina), do outro lado, que esquecem com freqüência além da desejável, o valor da aposta Mercosul.

A grande jogada de união entre os países desta parte do mundo, de ”sangre caliente” mal acostumados a deslembrar semelhanças e enfatizar diferenças, excede em muito a de um pacto regional de abertura de mercados. Catalisa, isso sim, a construção de instituições capazes de liderar o processo de desenvolvimento, assim como a gestação de uma autêntica cultura de integração como base para as inevitáveis negociações com outros blocos, especialmente no âmbito da NAFTA, da União Européia, do Sudeste Asiático e dos Países Árabes e Africanos.

Resulta que Brasil e Argentina são os fiadores dessa aposta no futuro.

Por outra parte, não está demais lembrar que o novo mapa geopolítico do Cone Sul começou a ser desenhado em 1987, quando os então presidentes Raúl Alfonsín (Argentina) e José Sarney (Brasil) com rara visão de estadistas, assinaram um ambicioso acordo de integração industrial que foi, com toda justiça, o grande ato inicial da formação do Mercosul em Março de 1991, que inclui, por força gravitacional, Paraguai e Uruguai.


Recomendamos conferir "O QUINTO CAVALHEIRO", publicado em 06/02/09

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