terça-feira, 19 de janeiro de 2010

GARRAS MUITO AFIADAS


Faz menos de uma geração que eram contados os economistas que se atreviam apostar que a China poderia um dia situar-se entre as maiores economias do mundo. No início da década dos 80, no principio da corrida para o futuro da era Deng, pesava fortemente em contra de qualquer visão mais otimista tanto o pesado fardo dos tempos de Mao e o preconceito de ser um país comunista – que, no imaginário divulgado pela CIA, seus dirigentes comiam criancinhas no café da manhã - como o abismo aparentemente instransponível de suas terríveis deficiências econômicas e sociais. E ainda: era longe, pouco conhecido, escondida pelo véu dos mistérios do Oriente e abrigando a maior massa de famintos do mundo.

Mas, tudo muda. Assim, quem diria que no início da segunda década do Século XXI, a China alcançaria a posição da segunda potência econômica do mundo – ou a terceira, muita próxima do Japão, dependendo das paridades das taxas de câmbio utilizadas – e somaria um conjunto impressionante de sucessos econômicos suficientes para deixar de barbas de molho os EUA, líder tradicional nos recordes globalizados. (Vide nosso artigo anterior – “A Sacudida do Dragão”).

É claro que, se por um lado, a “crise globalizada do sistema liberal&capitalista” pôs um freio e, em certos casos, fez retroceder o avanço das grandes economias planetárias, não é menos verdade que a China revelou uma invulgar capacidade para navegar nas águas tempestuosas de 2009 e continuar liderando, com folga, o pelotão do crescimento econômico das nações, exibindo orgulhosamente seus notáveis 9,6% de avanço, que segue os impressionantes 13,2% de 2008, os 11% de 2007, os 11,4% de 2006, os 11,0% de 2005....

Mas, não é apenas isso. Para 2010 pode até esperar-se muito mais, de acordo com as projeções da insuspeita e prestigiosa Academia Chinesa de Ciências Sociais, que no seu “Livro Azul 2010” aponta um conjunto respeitável de fatores que fundamentam as perspectivas de um crescimento sustentável da “menina de ouro dos investidores internacionais”, na denominação do sisudo Wall Street Journal.
È importante levar em conta que a China tem sido e continuará a ser um dos principais fatores para reduzir os efeitos da crise globalizada, continuando agressivamente a comprar, a vender e a investir nos países pobres e nos emergentes, ocupando o papel outrora monopolizado pelos países ricos, os EUA na cabeça.

Especialmente para América Latina, que continua encontrando no mercado chinês um porto seguro para muitos de seus produtos essenciais na sua pauta exportadora – fator de desenvolvimento - como foi o caso especial do Brasil com o minério de ferro e a soja, que contribuíram para o superávit de mais de US$ 3 bi obtido no comércio bilateral em 2009.

E, segundo a Instituto de Comercio Exterior da Universidade de Hong Kong – que vive o dia-a-dia do comercio internacional na maior Zona Franca do mundo - numa demonstração de vigor redobrada, as exportações chinesas devem subir uns 15% em 2010 para voltar ao nível recorde de 2008 – US$ 1,3 trilhão, umas oito vezes mais que a projeção do Brasil para o corrente ano.

Para atingir isso, o Ministério do Comércio prioriza esforços para aumentar a participação nos países emergentes, contando agora com “a mão extra” do Tratado de Livre Comércio com a Associação de Países do Sudeste Asiático (ASEAN), assinado em Dezembro/2009, que consolida um mercado potencial de quase 600 milhões de pessoas e com o qual a China mantém laços milenares.  Paradoxalmente, respeitadas as diferenças, praticamente 100 anos depois se repete na Ásia aquela famosa estória do “quintal” dos EUA na América Latina!

Outro fato de efeitos multiplicadores formidáveis para alavancar o avanço chinês, é o re-descobrimento do mercado interno, que apresenta uma perspectiva de crescimento de 16% em 2010 e que, na opinião da Câmara Geral de Comércio da China, continuará a ser um caminho promissor e de inigualável valor para os milhares de empresas, tanto nacionais como estrangeiras, que começam a desvendar as oportunidades que oferece aquele que rapidamente se esta transformando no “maior mercado de consumo do mundo”, como afirma Chen Jiagui, editor do Livro Azul 2010.

Finalmente, não está demais ter em conta que os chineses seguem o preceito do mestre Confúcio: “Para alcançar objetivos superiores, é preciso paciência, equilibro e persistência”.

(Imagem: Porto de Hong Kong)






  

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