quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

AMEAÇA LATENTE



Com indisfarçável alegria, aguçada com generosas doses dos mais caros champagnes que o dinheiro pode comprar os donos e os principais executivos das grandes corporações internacionais e seus braços mediáticos, festejavam a decisão da Suprema Corte de Justiça dos EE. UU que permite a empresas privadas financiar, sem limites, candidatos a cargos eletivos. E, inclusive, para fazer ainda mais calamitosa essa infeliz resolução, também permite financiar campanhas incriminatórias, possibilitando uma desmedida ameaça e censura prévia àqueles que não se dobram aos desígnios dos poderosos.

Ou, traduzindo, uma torrente impressionante de dinheiro, disponível nas arcas das maiores corporações do mundo - as principais favorecidas por essa decisão - passa a influir, legalmente, a eleição daqueles que tomam as decisões e fazem as leis que, de um modo ou outro, pelo poder gravitacional dos EE. UU, afetam uma boa parte da humanidade.

Quem sabe, lembrando a histórica declaração de Abraham Lincoln, em Gattisburg, em 1863, “A democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo”, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi enfático com relação aos efeitos tenebrosos dessa decisão da Corte Suprema: “Não posso imaginar uma coisa mais devastadora para o interesse público. Essa sentença é um golpe à democracia”, disse o mandatário. E acrescentou: “Com isso estamos dando mais influência aos poderosos interesses que afogam as vozes da maioria dos estadunidenses”.

 E de dezenas de milhões além das fronteiras dos EE.UU.

Ao mesmo tempo, como se não chegassem as mazelas que já entremeiam o sistema, tanto o polvo da corrupção ganha um importante aliado institucional, como vai ficar ainda mais difícil separar o joio do trigo na credibilidade dos meios de informação globalizados.

Às vezes fica muito complicado confiar no bom discernimento dos doutos juizes quando acontecem decisões contrárias ao interesse publico e que acobertam repercussões de efeitos catastróficos para a vida da maioria das pessoas em muitos países desse mundo globalizado. No impacto, as lembranças são sacudidas por outra decisão fundamental da Suprema Corte, quando em 12 de dezembro de 2000 impediu uma nova contagem de votos na Florida, que consolidaria a vitória de Al Gore, permitindo assim a conquista da presidência por George Bush. E com isso, deu no que deu.

 Na prática, esses poderosos interesses, com sede nos EE. UU estão fortemente concentrados em pouco mais de 200 multinacionais e seus “amigos do peito” que atuam nas sombras – sistema financeiro, oligopólios de propriedade intelectual, cartéis globais de tecnologia, sistemas de combate ao terrorismo, esquemas de manipulação mediática, e muitos outros - que, entre outras incongruências do sistema liberal&capitalista, foram extraordinariamente beneficiadas pela crise que assolou o mundo nos últimos dois anos.

Na verdade, o abalo da estrutura econômica global serviu muito bem para acelerar a concentração do poder e, no balanço final, lá por 2012, teremos menos empresas, maiores e com maior participação de mercado. E com isso, com mais facilidade para manipular a vontade dos consumidores e possibilitar formas de globalização que melhor atendam os interesses das maiores corporações do planeta.

Mas, nem tudo está perdido. Uma das defesas mais eficientes contra os males dessa terrível concentração de poder está na qualidade e transparência da gestão da coisa pública, sabidamente uma das guaridas preferidas do monstro da corrupção, sempre bem alimentado pelos interesses e pela avidez dos influentes desse nosso sofrido pedaço do universo.

Como também é absolutamente fundamental a inclusão cada vez mais intensa do cidadão comum na organização e formato do futuro que pretende para si e para seus descendentes.

A começar pela sua participação ativa na definição das características da educação para os tempos que virão. 

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