terça-feira, 16 de março de 2010

GUERRA COMERCIAL

No comércio internacional é preciso entender que são os interesses que regulam as relações entre as nações, num esquema de “tomalá-dacá”. E ponto final, a despeito de toda a retórica gasta por diplomatas, políticos, governantes e negociadores.

Tendo esse princípio em mente, nada de espantar se quando, por um motivo ou outro, esses interesses são contrariados e forçam o país que se julga prejudicado a blindar seu próprio quintal, erguendo o escudo dos mecanismos de proteção de seu mercado interno para evitar ou dificultar a entrada de produtos e serviços do exterior.

Em geral, essas ameaças – as mais conhecidas se encondem trás a fachada de subsídios, dumping, tarifas compensátorias, entraves burocráticos, exigências especiais - – atentam em contra o desenvolvimento normal do mercado e, com maior ou menor intensidade, podem significar uma série de contratempos que se enlaçam numa espiral maléfica na forma de um revés para a manutenção de empregos, com potencial para reduzir o crescimento setorial e regional e levar à perda de competitividade – interna e externamente – assim como o retrocesso tecnológico, de consequências sempre danosas no longo prazo. Isso, para dizer o menos.

Ainda que autênticos– porque consequência de um fato econômico solidamente comprovado - ou ilegí-timos-porque escondem ineficiências e trazem prejuizos muito maiores que o mal que se pretende remediar - esses mecanismos de proteção não deixam de causar algum tipo de prejuizo no “outro lado” e até, muitas vezes, no país que ergue seu escudo protetor. Por outra parte nem sempre é possível distinguir os benefícios reais para os consumidores, pelo menos no curto e médio prazo.

Essas barreiras defensivas, de uma forma ou outra, deterioram o bom relacionamento entre os países, como é o caso do contencioso do Brasil com os EUA, a China e a Argentina, para citar apenas os três maiores sócios de nossas relações comerciais, que representam quase 30% de nosso intercambio com o exterior e com os quais os conflitos são mais visíveis e com maior potencial de risco para o bom andamento de nosso comércio além fronteiras.

Formalmente aprovadas pela Organização Mundial do Comércio, após mais de sete anos de infrutíferas negociações, as represálias brasileiras no caso dos subsídios ao algodão nos EUA é o episódio mais gritante de desentendimentos entre duas nações amigas. O que lembra a famosa frase: “Amigos sim, mas negócios aparte”.

È claro que o Brasil precisa e deve proteger seus interesses. Mas é uma pena que isso aconteça na forma de represálias – sob quaisquer modalidades - desde que não foram possíveis soluções de consenso. E assim sendo, ao enveredar para a luta na proteção de seus interesses, a desforra do outro lado é quase inevitável.

O que até justifica as manchetes da imprensa econômica internacional que, ávida como sempre de pôr lenha na fogueira, proclama que o Brasil está iniciando uma guerra comercial. Claro que não, como provam as demoradas e pacientes tentativas dos Ministérios de Relaçoes Exteriores e da Indústria e Desenvolvimento para tentar acordos que atendam os interesses das partes.

Mas, não devem duvidar: Os EUA não podem aceitar passivamente as represálias do Brasil. Pelos antecedentes do país do Norte, alguma reação é até lógica e, sem dúvida, virá. Até nem que mais não seja para livrar a cara do Governo Americano e ajudar a digerir esse novo prato “a la brasilera”. Pelo menos uma coisa é certa: A estas horas, muitos altos membros da burocracia estatal estadounidense devem estar lembrando, com evidente nostalgia, daqueles “bons tempos” nas primeiras décadas do Século XX quando os EUA mandavam e desmandavam por estas bandas da América Latina. E aproveitam para invocar a imagem forte e arrogante de Theodore Roosevelt (1858-1919) e seu não menos famoso “Big Stick”.

Para alegria dos falcões, os tambores de guerra estão sendo preparados para animar os adversários.

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