segunda-feira, 5 de março de 2012

UM NOVO PESO PESADO

Na luta pela hegemonia do planeta - globalizado, inquieto, sofrido e que ainda vacila na escolha de seu rumo nas areias do tempo - em 2001, Jim O’NEILL, na ocasião economista-chefe do departamento econômico do banco Goldman Sachs – que, verdade seja dita, naqueles tempos mantinha a credibilidade de uma das mais prestigiosas instituições financeiras do mundo - consultou sua bola de cristal e produziu um alentado estudo no qual antecipava, lá para 2050, uma nova arquitetura da economia global, colocando no palco a sigla BRIC para batizar o possível predomínio que deveria surgir de uma aliança de quatro grandes países: Brasil, Rússia, China e Índia que, desde poucos meses atrás, somou a estratégica África do Sul, o que levou a transformar a sigla tradicional em BRICS para incluir o novo aliado.

Vale assinalar que predições de como será a partilha do poder e a influência de países, regiões ou setores daqui a um determinado tempo no futuro– a escolha da duração desse período tem uma ampla flexibilidade - está, de maneira inevitável, sujeita aos azares das circunstancias, essas sim muito difíceis de prever nesse mundo insensato que tem comprovado, desde o início da civilização uns10. 000 anos atrás,  uma incapacidade notável para escolher um caminho que atenda, de modo equitativo, os anseios e as necessidades de seus habitantes na longa caminhada para o futuro.

Mas, para assombro dos incrédulos que acham que nada pode nem deve mudar, o Sr. O’NEILL parece ter acertado em cheio na sua profecia, pelo menos no que diz respeito aos primeiros 10 anos de sua arrojada predição.

O fato é que, liderados pela China - que ostenta um poder econômico praticamente equivalente àquele de seus três “companheiros de viagem” -  agora, “4” -esses países parecem estar acreditando que podem fazer a diferença e deslocar de vez o eixo do poder tradicional Europa - EUA , dando uma contribuição significativa para consolidar um mundo de paz, prosperidade e justiça social. Para todos.

Têm suas credenciais para tal: reúnem 2,9 bilhões de habitantes, 43% da população mundial; seu PIB (Produto Interno Bruto) já ultrapassa os US$11 trilhões, 17% do total global e, pelo andar da carruagem, deve ultrapassar àqueles dos EUA e da UE lá por 2020; três deles - China, Rússia e Índia - são potências atômicas e incursionam agressivamente na conquista espacial; possuem recursos naturais imensos – especialmente o Brasil – que apenas devem ser explorados racionalmente e com respeito integral ao meio ambiente; seu imenso território conjunto, de mais de 43 milhões de Km2, é 4,5 vezes maior que a superfície dos EUA; o crescimento de sua economia é, de longe, aquele que dá a maior contribuição ao desenvolvimento mundial; e, de um modo ou outro, com exceção da Rússia, compartem o mesmo passado de dominação e exploração por parte dos países mais ricos, o que, de muitas maneiras, contribui para uma visão diferenciada da realidade e dos mecanismos para solução dos graves problemas que afligem a humanidade.
Na realidade, uma tríplice aliança já estava em gestação pelos “companheiros asiáticos” que desde os anos 80, esquecidos dos conflitos militares que protagonizaram entre si no início da década dos 60, iniciaram um esforço notável para tentar utilizar suas potencialidades a favor de um desenvolvimento mais acelerado, reunindo-se freqüentemente no mais alto nível e celebrando acordos de cooperação e alianças estratégicas em áreas vitais, como energia, tecnologia, comércio, produção de alimentos e exploração de recursos naturais.

Assim, quando foi lançada a idéia de associar o Brasil com o surgimento do BRIC. já existia uma base asiática importante que, isso sim, foi significantemente fortalecida com a entrada de um país Atlântico, rico em matérias primas, possibilidades e, não menos importante, sem preconceitos nem ranços colonialistas, que compartilhava o mesmo anseio de superação para atingir patamares mais elevados de desenvolvimento, participação e reconhecimento global.
E, pelo visto e demonstrado nos últimos anos, os BRICS começam a fazer a diferença com seu peso político/econômico, iniciando a consolidação de um novo centro estratégico do poder mundial para competir com os EUA e a EU.

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