terça-feira, 16 de julho de 2013

MALDITOS VESTÍGIOS DO PASSADO


O ranço colonialista

Não deixa de ser um sinal de alerta – ou de perigo eminente, como dramatizam.com toda razão, diversos analistas – dois episódios recentes de flagrante desrespeito às boas relações que países amantes da paz devem manter entre si, assim como também um agravo à soberania dos países da América Latina: 1) o fechamento do espaço aéreo de países europeus para o prosseguimento do vôo do avião que transportava o presidente da Bolívia, Evo Morales, atendendo ao pedido de EUA; 2) a descoberta de um sistema cibernético que espionava o Governo Brasileiro – entre outros - além de empresas e cidadãos da “formosa terra aportada por Cabral lá por 1.500 DC”.

Que vergonha! Nosso “grande irmão do norte” até parece ter saudades daqueles anos do início do século passado, quando mantinha uma influência inquestionável (nefasta) sobre os países ao sul do Rio Grande, fiel à política de segurar um porrete (big Stich) numa das mãos e um punhado de dólares na outra. Na soma, anos tristes para América Latina, semeados de corrupção e ditaduras, que abriram as trilhas tortuosas para a livre passagem da rapina predatória dos recursos naturais do continente, somados ao trabalho ignóbil e a perda de esperança das populações nativas.

Mas (quase) tudo isso faz parte do passado. Hoje, América Latina, com governos e povos que não se curvam submissos aos interesses egoístas das grandes nações do Atlântico Norte está, como nunca antes, aberta a novas propostas de cooperação internacional em termos totalmente diferentes daqueles marcados pelo ranço colonialista dos séculos findos.

O que, na prática, nos últimos anos está sendo fartamente aproveitado pela China.

A justa revolta

Em 12/13 de Julho, em Montevidéu, no decorrer da 45ª. Cúpula de Presidentes dos Países do MERCOSUL - com a presença dos presidentes de Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela, desde que apenas em 15 de Agosto Paraguai se reintegrará ao bloco – condenaram formalmente essas demonstrações de afronta aos países da América Latina, com veementes manifestações de protesto e de uso intensivo dos canais diplomáticos para solicitar explicações e desculpas.

Já que negar é impossível, a carapuça de segurança nacional, combate ao terrorismo, tráfico e crimes além fronteiras devem servir de escudo a essas ações condenáveis que, com toda razão, serão levados aos mais altos fóruns internacionais para obter a repulsa que merecem.

Não está demais relembrar que, no bojo da espionagem eletrônica, pode ser detectado o germe de um dos grandes perigos que assombra o futuro dos países menos desenvolvidos: a implantação gradativa de um novo tipo de colonialismo feito de tecnologia, em todas suas formas e usos. Que, convenhamos, não é fácil de distinguir, tanta é sua diferença com os instrumentos tradicionais, como poder das armas, guerras, domínio econômico e posse territorial que, de resto, forjaram a maioria das nações de nosso sofrido Planeta e que teve no Império Britânico (ex) seu maior expoente.

No comunicado final da reunião, a menção à detenção do avião presidencial de Evo Morales é colocada em termos que não deixam lugar a duvidas sobre o erro cometido, especialmente por Portugal, Espanha, França e Itália:

“O que aconteceu não é apenas um ato infundado, discriminatório e arbitrário, mas também uma violação flagrante das regras do direito internacional, típico de uma prática neocolonial, que ameaçou a vida do irmão presidente Morales e de sua comitiva. É uma ofensa grave não só ao Estado da Bolívia, mas também para todo o MERCOSUL".

Já com relação à espionagem, observaram que:

Os presidentes do MERCOSUL condenam as ações de espionagem por agências de inteligência dos Estados Unidos da América, que afetam todos os países da região."

“Exigem a cessação imediata das mesmas e explicações sobre a sua motivação e suas conseqüências. Igualmente, decidiram trabalhar para garantir a segurança cibernética dos países do MERCOSUL, essencial para a defesa da soberania".

“Rejeitam enfaticamente a intercepção de telecomunicações e ações de espionagem, que são uma violação dos direitos humanos, o direito à privacidade e o direito à informação dos nossos cidadãos, sendo tal atitude parte de um comportamento inaceitável e uma violação de nossa soberania que prejudica o normal funcionamento das relações entre as nações”.

“Enfatizam que a prevenção e a repressão do crime transnacional, incluindo o terrorismo devem cair sob o domínio da lei e da estrita observância do direito internacional”.

Bem, e agora? Tem muita água para passar embaixo das pontes da amizade (sincera?) entre os países do Norte e do Sul. Mas uma coisa é certa: Cutucaram a onça com vara curta e no momento errado!

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