Falam as ruas
As multidões que marcham pacificamente -
descontados os inevitáveis grupos de baderneiros - trazem uma mensagem bem clara
para as elites dirigentes: Basta! Basta de corrupção, de falta de ética, de
desperdício, de ganância desenfreada, de falta de transparência, de mau uso dos
recursos públicos, de desfaçatez, de governança anêmica e de ignorar
sistematicamente as verdadeiras necessidades e interesses da maioria.
O povo nas ruas é uma arma de um poder
inigualável como provaram, entre outros eventos memoráveis, na Índia de Gandhi em 1948; no Brasil, em 1983/4,
na campanha das diretas e pelo fim da ditadura; na Rússia e seus satélites, em
1989/91, que esfacelaram o socialismo soviético; nas manifestações da Primavera
Árabe, que derrubaram governos autocráticos do Oriente Médio em 2010/11.
E, através dos tempos, não podem
esquecer-se tantas manifestações que, pacífica ou de forma violenta, dentro ou
fora de regimes democráticos, mostram que os cordeiros podem transformar-se em
lobos e lutar por aquilo que acham justo.
A corrupção
Numa antiga inscrição assíria, de 2.600
anos A.C. conservada no Museu do Homem, em Londres, pode ler-se: ”Nos dias atuais, a corrupção **envenena a sociedade; os filhos não obedecem mais seus
pais; a moral já deixou de ser um guia para a conduta de nossos líderes; e
assim o fim do mundo está se aproximando”.
Esse flagelo
anda sempre de mãos dadas com a total falta de ética e uma extraordinária
capacidade para atuar às escondidas. E, com uma desfaçatez impecável, seus
adeptos sabem muito disfarçar sua face repugnante trás uma fachada de
imponência, esbanjando importância e soberba, fazendo questão em vender uma
imagem pasteurizada do tipo cidadão acima
de qualquer suspeita.
Entre
seus aliados infalíveis e sempre dispostos a servir seus propósitos
inconfessáveis, merecem destaque especial: A
burocracia, em todos seus níveis e formas; as leis, quando esquecem a Justiça e o Interesse Público; a ambição, que destrói o caráter; as organizações, quando seus líderes carecem
de firmeza moral; os costumes, que petrificam os maus hábitos no altar do
“sempre foi assim”; os controles,
que entronam a fiscalização (e os fiscais). Bem, vocês podem também descobrir
muitas cabeças mais para esse monstro que, abertamente ou às escondidas, cobra
uma parcela de nosso bem estar.
Mas, ainda
que antigo e com raízes profundas na sociedade, não por isso deve deixar de ser
combatido com todas as armas possíveis, a começar pela manutenção de uma imprensa livre; na educação que deve reforçar a importância dos princípios éticos como
parte fundamental do “homem social”; e no fortalecimento
da ação de quase uma centena de ONGs que no mundo todo lutam sem trégua
contra esse monstro.Vale meditar sobre algumas manifestações de alguns soldados de vanguarda nessa batalha, que é também uma luta pela transparência, a democracia e a qualidade de vida:
* Barry O''Keefe, presidente
do Conselho da Conferência Mundial Contra a Corrupção (IACC), acredita que “uma das principais razões da atual crise
financeira mundial é a corrupção e a falta de moralidade e de
ética".
* Constantinos
Bacouris, presidente da Transparência Internacional grega, afirma que “a
corrupção está dentro do núcleo dos desafios da humanidade e, por isso, é
preciso combatê-la. Devemos avaliar melhor e entender sua relação íntima com a
paz e a segurança, as energias renováveis, e o desenvolvimento sustentável”.
* Anup Shah, renomado
jornalista hindu, estudioso dos efeitos da globalização, afirma que “é preciso entender que a corrupção é uma das causas fundamentais
da pobreza em todo o mundo e seu impacto nos países mais pobres tem a dimensão
de uma terrível tragédia humana. Também, o tipo de globalização implementada
nas últimas décadas favoreceu a disseminação dessa prática criminosa que nasce
da competição desumana na base do sistema liberal-capitalista”.
** “Corrupção vem do latim corruptus e significa quebrado
msnozar@yahoo.com.br
Estimado Miguel,
ResponderExcluirExcelente artigo.
No Brasil, quando falamos em corrupção, ainda temos o famigerado "jeitinho brasileiro" - a malandragem de tirar vantagem sempre - que banaliza a corrupção nos pequenos atos, validando comportamentos inaceitáveis dos políticos. Afinal, não são os políticos representantes do povo e reprodutores de hábitos culturalmente aceitos?
Muitos dos que foram pra rua pedir o fim da corrupção furam fila, ultrapassam pelo acostamento, ficam com o troco a mais que o garçom entregou errado. A corrupção começa dentro de casa, de cada um de nós brasileiros.
Obrigado pela reflexão.
Abraços,
Danilo Pavei