terça-feira, 9 de julho de 2013

REVOLTA



Falam as ruas

As multidões que marcham pacificamente - descontados os inevitáveis grupos de baderneiros - trazem uma mensagem bem clara para as elites dirigentes: Basta! Basta de corrupção, de falta de ética, de desperdício, de ganância desenfreada, de falta de transparência, de mau uso dos recursos públicos, de desfaçatez, de governança anêmica e de ignorar sistematicamente as verdadeiras necessidades e interesses da maioria.

O povo nas ruas é uma arma de um poder inigualável como provaram, entre outros eventos memoráveis,  na Índia de Gandhi em 1948; no Brasil, em 1983/4, na campanha das diretas e pelo fim da ditadura; na Rússia e seus satélites, em 1989/91, que esfacelaram o socialismo soviético; nas manifestações da Primavera Árabe, que derrubaram governos autocráticos do Oriente Médio em 2010/11.

E, através dos tempos, não podem esquecer-se tantas manifestações que, pacífica ou de forma violenta, dentro ou fora de regimes democráticos, mostram que os cordeiros podem transformar-se em lobos e lutar por aquilo que acham justo.


A corrupção

Numa antiga inscrição assíria, de 2.600 anos A.C. conservada no Museu do Homem, em Londres, pode ler-se: ”Nos dias atuais, a corrupção **envenena a sociedade; os filhos não obedecem mais seus pais; a moral já deixou de ser um guia para a conduta de nossos líderes; e assim o fim do mundo está se aproximando”.
Esse flagelo anda sempre de mãos dadas com a total falta de ética e uma extraordinária capacidade para atuar às escondidas. E, com uma desfaçatez impecável, seus adeptos sabem muito disfarçar sua face repugnante trás uma fachada de imponência, esbanjando importância e soberba, fazendo questão em vender uma imagem pasteurizada do tipo cidadão acima de qualquer suspeita.
Entre seus aliados infalíveis e sempre dispostos a servir seus propósitos inconfessáveis, merecem destaque especial: A burocracia, em todos seus níveis e formas; as leis, quando esquecem a Justiça e o Interesse Público; a ambição, que destrói o caráter; as organizações, quando seus líderes carecem de firmeza moral; os costumes, que petrificam os maus hábitos no altar do “sempre foi assim”; os controles, que entronam a fiscalização (e os fiscais). Bem, vocês podem também descobrir muitas cabeças mais para esse monstro que, abertamente ou às escondidas, cobra uma parcela de nosso bem estar.
Mas, ainda que antigo e com raízes profundas na sociedade, não por isso deve deixar de ser combatido com todas as armas possíveis, a começar pela manutenção de uma imprensa livre; na educação que deve reforçar a importância dos princípios éticos como parte fundamental do “homem social”; e no fortalecimento da ação de quase uma centena de ONGs que no mundo todo lutam sem trégua contra esse monstro.
Vale meditar sobre algumas manifestações de alguns soldados de vanguarda nessa batalha, que é também uma luta pela transparência, a democracia e a qualidade de vida:
* Barry O''Keefe, presidente do Conselho da Conferência Mundial Contra a Corrupção (IACC), acredita que “uma das principais razões da atual crise financeira mundial é a corrupção e a falta de moralidade e de ética".
* Constantinos Bacouris, presidente da Transparência Internacional grega, afirma que a corrupção está dentro do núcleo dos desafios da humanidade e, por isso, é preciso combatê-la. Devemos avaliar melhor e entender sua relação íntima com a paz e a segurança, as energias renováveis, e o desenvolvimento sustentável”.
* Anup Shah, renomado jornalista hindu, estudioso dos efeitos da globalização, afirma que “é preciso entender que a corrupção é uma das causas fundamentais da pobreza em todo o mundo e seu impacto nos países mais pobres tem a dimensão de uma terrível tragédia humana. Também, o tipo de globalização implementada nas últimas décadas favoreceu a disseminação dessa prática criminosa que nasce da competição desumana na base do sistema liberal-capitalista”.
** “Corrupção vem do latim corruptus e significa quebrado em pedaços. O verbo corromper significa “tornar pútrido”.


 msnozar@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Estimado Miguel,

    Excelente artigo.

    No Brasil, quando falamos em corrupção, ainda temos o famigerado "jeitinho brasileiro" - a malandragem de tirar vantagem sempre - que banaliza a corrupção nos pequenos atos, validando comportamentos inaceitáveis dos políticos. Afinal, não são os políticos representantes do povo e reprodutores de hábitos culturalmente aceitos?
    Muitos dos que foram pra rua pedir o fim da corrupção furam fila, ultrapassam pelo acostamento, ficam com o troco a mais que o garçom entregou errado. A corrupção começa dentro de casa, de cada um de nós brasileiros.


    Obrigado pela reflexão.

    Abraços,

    Danilo Pavei

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