terça-feira, 22 de outubro de 2013

TEMPO DE ESPERA

Os EUA submeteram a todos nesse nosso mundo globalizado a intermináveis dias de tensão a medida que persistiam as dúvidas sobre a possibilidade real de que republicanos e democratas – as duas grandes políticas que pugnam por dirigir o destino do país - chegassem a um consenso sobre a ampliação do teto da dívida autorizada pelo Congresso para permitir que o Tesouro continuasse a honrar seus compromissos, pagar juros e emitir novos bônus.

 Apesar do foguetório festivo, trata-se de um remendo até fevereiro de 2014, quando novas negociações colocarão à prova os nervos e a paciência de todas as nações do mundo, temerosas pelas imprevisíveis conseqüências de um default da dívida soberana dos EUA, que sempre mereceu a máxima nota –AAA – das classificadoras de risco, cúmplices incondicionais das manipulações financeiras de seus grandes clientes.

 Apresentados tradicionalmente como um dos investimentos mais seguros do globo nos quais todos confiam, inclusive os países de todo o mundo para aplicar parcelas importantes de suas reservas internacionais nesses títulos que sempre mereceram a nota máxima de segurança das classificadoras de risco. Bem, ao parecer, os últimos acontecimentos, levantam fortes dúvidas que isso seja realmente assim.

 Em tempo: O Brasil tem quase 70% de suas reservas internacionais aplicadas em bônus da dívida americana; a China, de longe o maior credor internacional dos EUA, acredita na solidez (?) do sistema para manter nessa aplicação quase 40% de seus excedentes.

Mas, de tudo isso, o problema real que precisa ser solucionado deriva diretamente de que o Governo dos EUA gasta escandalosamente mais do que arrecada. Portanto, é crucial originar mais recursos e reduzir despesas, tanto para manter o governo funcionando como para tentar obter excedentes para amortizar essa montanha fabulosa de US$ 16,7 trilhões de dívida soberana - quase 7 vezes o PIB do Brasil - que não cessa de crescer e paira como uma sombria ameaça sobre a saúde econômica de todas as nações do mundo. Isso, em boa parte, em função do monopólio do dólar como principal moeda de troca e de reserva nas complexas inter-relações financeiras planetárias. Bem, de qualquer modo, fica comprovado, uma vez mais, que em nosso mundo globalizado, todos dependemos de todos.

No entanto, pelas deficiências intrínsecas na arquitetura do “sistema”, os países na senda do desenvolvimento – o Brasil é um excelente exemplo - são propensos a recebem com força desproporcional os efeitos maléficos da falência na governança da economia líder do mundo, assim como do conjunto das economias da União Européia. E, dos países pobres, nem falar da dimensão potencial duma catástrofe no coração do “sistema”, geralmente traduzida em mais fome, mais conflitos violentos. mais mortes e mais miséria que sepultam as esperanças de uma vida melhor para milhões de seres humanos.

 Enfim, e só lembrar as lições do passado, quase sempre provocadas pela insensibilidade dos poderosos que teimam em passar por cima as necessidades e aspirações da maioria na sua ânsia de mais riqueza e mais poder. E para acrescentar mais dúvida sobre os rumos do futuro,

Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve e homem forte da política monetária americana entre 1987 e 2006, declara em razão do desenlace dramático do recente conflito: ”É perfeitamente concebível que os Estados Unidos voltem a ter em breve uma crise política com repercussões econômicas como as da semana passada sobre o teto do endividamento do governo”.

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