sexta-feira, 11 de outubro de 2013

CONFIANÇA PERDIDA

Na medida que a quebra-de-braço entre os republicanos e o governo de Barack Obama revela cruamente que lá também impera o dogma sagrado da politicagem – toma-lá-dá-cá – o mundo globalizado se indaga aflito sobre a probabilidade real de um default na dívida soberana da maior economia do planeta, com data limite para início em 17/10/2013. Tudo como resultado do descalabro das contas públicas, do endividamento além dos limites ditados pela boa governança e da ansiosa volúpia de gastar acima das possibilidades, empurrados pelo consumismo desenfreado e pela síndrome de serem e agir como os expoentes máximos, sob todos os pontos de vista, das virtudes mais caras da civilização. Os fatos têm comprovado que isso não é assim e os custos desse modo de distorcer a realidade podem vir a serem, direta ou indiretamente, um ônus imerecido para todas as nações do mundo. De qualquer modo, um acordo político para aumentar o teto do endividamento do governo, que já ultrapassa os 17 trilhões de dólares ou 20% do PIB mundial, será apenas um remendo para evitar, no curto prazo, um desastre de conseqüências catastróficas, tanto para os EUA como para o resto do globo. Mais na frente, veremos. A solução, ou melhor, o início de uma possível solução, já foi encontrado 20 anos atrás no governo Bill Clinton (1993-2000) que conseguiu a façanha de equilibrar o orçamento e reduzir a dívida pública, esforço que não foi totalmente compreendido pelo povo americano que abriu caminho para a era Bush (filho) (2001-2008), empurrada cinicamente pelos duvidosos episódios da apuração crucial da votação das eleições presidenciáveis em Miami, em novembro de 2000. Muitos analistas, ainda que torcendo fervorosamente para que o pior não aconteça, alertam para uma forte probabilidade da eclosão de um caos econômico, financeiro, social e humano como possíveis resultados de não aprovação da elevação do teto da dívida, semelhante aos tenebrosos efeitos derivados do colapso iniciado na bolsa de Nova York em outubro de 1929 que, praticamente, corroeu boa parte da riqueza do planeta, castigando com sanha especial os que menos tem e mais precisam, mantendo assim uma tradição milenar. E, ironia cruel, só terminou com a II Guerra Mundial elevada á categoria de motor da recuperação da economia mundial. Custo: 60 milhões de mortos, destruição da Europa e nova geografia do poder sob a liderança incontestável dos EUA. Quem sabe se de toda essa novela agourenta, o mundo acorde para uma nova realidade, que muito bem pode em sintetizada em princípios simples, como: a) Não se pode confiar de olhos fechados nos EUA, prisioneiro de suas contradições e querelas políticas com força suficiente para desatar formidáveis crises globalizadas e, b) não menos importante, os países – e vale especialmente para os emergentes, o Brasil no meio – devem antecipar cenários caóticos e procurar salvaguardas para superar, com o mínimo de danos possíveis, os efeitos negativos das deficiências na governança das grandes economias do planeta, a começar por aquela de nosso grande “irmão do norte”. A rapidez de propagação e profundidade da crise que se arrasta desde 2007 – o episódio protagonizado pelos EUA pode ser considerado como um novo sinal de que algo anda muito mal na arquitetura financeira do globo - deve também ter deixado sem pai e sem mãe a tese defendida a unhas e dentes pelo “sistema” de que “a mínima regulamentação é a melhor regulamentação”, esquecendo (convenientemente) que as forças do mercado têm “um lado obscuro”, dominado pela cobiça, acobertado no egoísmo e turbinado pelo consumismo desenfreado. E, em tempo de mudanças profundas, com a coragem necessária para enfrentar o custo político de decisões impopulares no curto prazo, muitos países deveriam pôr as barbas de molho – o Brasil, especialmente - e fazer ajustes nas suas estruturas econômicas para fazê-las menos vulneráveis às crises, num mundo onde a única certeza é que tudo muda.

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