quinta-feira, 4 de setembro de 2014

NÃO ESQUECER O MERCOSUL


 

Normalmente, o sucesso do MERCOSUL é apenas medido nas cifras do intercâmbio comercial entre seus membros, as quais, com seus altos e baixos, são consideradas o termômetro do andamento do processo de integração. Mas é importante não esquecer que o crescimento espetacular do comércio nos últimos 20 anos ofusca outras realizações não menos respeitáveis e, sob certos aspectos, imprescindíveis para a consolidação definitiva do bloco.

É claro que as incertezas com relação à situação internacional e seus reflexos por inércia na economia regional, assim como aspectos indesejáveis da situação interna de cada sócio, complicam o andamento e a velocidade do processo de integração, porque as urgências e angustias do momento impedem a consolidação de objetivos estratégicos que precisam ser apreciados no longo prazo.

Como por exemplo, por conta de sua alquebrada situação e de suas posições controversas, Argentina tem sido uma pedra no sapato de seus sócios do MERCOSUL, pondo em risco a continuidade da aliança e dando argumentos para seus detratores deitar e rolar na sua cruzada pelo fim do “Grande Pacto do Sul das Américas”.

Conjuntura que, entre outras coisas, serve para dar asas às críticas da “turma do contra” – veladamente apoiada pelos EUA - a começar pela incapacidade (?) do bloco em acompanhar as vertiginosas mudanças da era da globalização, assim como as dificuldades em alcançar um consenso em temas críticos, como a possibilidade de efetivar acordos de livre comércio de acordo com os interesses de cada país. E para jogar lenha na fogueira, interpretações isoladas de acordos que dão sustentação ao pacto ao vaivém dos interesses e circunstancias do momento.

Entretanto não podem ignorar-se avanços da maior importância como, por exemplo, o forte interesse da União Européia (EU) – que já engloba 29 nações que juntas representam um poder econômico equivalente àquele dos EUA - em finalizar os acordos de integração com o MERCOSUL, desde e quando permaneça unido como bloco. Fato que merece sempre atenção redobrada, desde que a visão externa pode sintetizar-se assim: “Se um grupo de países da América Latina consegue, apesar de suas divergências históricas, negociarem, formatar e consolidar mecanismos institucionais de integração entre si merece credibilidade, possui maturidade política e, a partir de seu crescente prestígio internacional, pode vir a ser considerado um parceiro importante e confiável na formação de uma nova grande aliança econômica no Atlântico”.


De qualquer modo, temos que concordar que na prática predomina o bom senso - que tem um forte aval nos interesses comuns - no relacionamento dos “companheiros”, muito bem sintetizado na frase de um negociador experiente: Se não existisse o MERCOSUL, onde estaríamos agora? “Pode não ser o ideal, mais juntos podemos mais, negociamos melhor, temos mais credibilidade e ganhamos em escala num mundo onde predominam interesses gigantescos” Lembrete: as 10 maiores multinacionais do planeta têm um faturamento conjunto maior que o PIB somado dos sócios do bloco!

Foi um diplomata - sem preconceitos - quem sintetizou como resultados concretos do MERCOSUL: “A ampliação dos fluxos de comércio – que cresceram mais de 1.000% – a expansão de joint-ventures, os investimentos, os acordos de integração em áreas estratégicas – energia, transportes, intercambio tecnológico e segurança são exemplos notáveis - o avanço na criação de normas comuns em áreas de interesse direto, como justiça, educação, saúde, emprego e meio ambiente. E o mais importante, a garantia de democracia na região, patrimônio de cooperação e solidariedade, fator de paz, de estabilidade e de estímulo ao crescimento”.



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