quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

CRISE & DESIGUALDADE


O mundo, em especial as nações ocidentais, continua com sua tarefa gigantesca de equilibrar suas economias e retomar a senda do crescimento, conhecedoras que são que esse é uma necessidade imperiosa para afiançar o bem estar de suas populações nos anos que virão.

Para não perder a costume de procurar bodes expiatórios que não podem revidar, muitas lideranças - e aí são destaque os países em desenvolvimento – acham politicamente interessante jogar a culpa na globalização pela extensão da crise que assola a humanidade há mais de oito anos, esquecendo convenientemente que, em muitos casos, o descalabro econômico – e suas conseqüências - é também resultado da péssima governança de seus dirigentes, o Brasil no meio.

Em verdade, a globalização não tem pai nem mãe, não tem profetas nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou responsabilidades. Tem, isso sim, vítimas e aproveitadores.

Assim, através dos séculos, na sombra de toda teoria econômica, esse fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de tanta exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas, quando os interesses dos que tudo podem encontraram o aliado ideal no casamento da tecnologia com os mercados.

Para assombro, real ou fingido, de muitos de nossos mais doutos economistas, a “crise” teve efeitos absolutamente impensáveis pelos especialistas em prever os rumos da economia e a distribuição de riqueza: Nos últimos anos, os ricos -1% da população mundial - ficaram substancialmente mais ricos. Já o restante da sociedade sofreu uma diminuição de sua renda, com um aumento mais que proporcional no número de pobres, remediados e miseráveis.

As pesquisas e análises sobre os efeitos da crise na distribuição da riqueza se multiplicam sob os auspícios de prestigiosas universidades e entidades internacionais como, por exemplo, um importante estudo conduzido pelos professores Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos) e da LSE (Inglaterra) mostrando que os 0,1% americanos mais ricos ─ ou 160 mil famílias, com patrimônio médio de cerca de US$ 73 milhões - detêm mais de um quinto de toda a riqueza do país, ou o mesmo montante controlado pelos 90% dos americanos mais pobres.
Existem todos os tipos de razões pelas quais tais aumentos na desigualdade são preocupantes, e não apenas para aqueles que estão na base da pirâmide de riqueza, senão que também por lideranças esclarecidas que advertem que essa situação está no centro das forças que empurram a uma boa parte da sociedade para a violência, a insegurança, as drogas e uma descrença total nos valores mais apreciados da condição humana. Assim, é previsível a ruptura do tecido social com suas nefastas conseqüências.
Enfim, tem algo de muito errado na forma em que a riqueza do mundo é distribuída, especialmente considerando que a “crise” devia exercer seus efeitos malignos sobre todos proporcionalmente (em teoria) e, na realidade, apenas aumentou as desigualdades.






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