O mundo, em especial as nações ocidentais, continua com sua
tarefa gigantesca de equilibrar suas economias e retomar a senda do crescimento,
conhecedoras que são que esse é uma necessidade imperiosa para afiançar o bem
estar de suas populações nos anos que virão.
Para não perder a costume de procurar bodes expiatórios que
não podem revidar, muitas lideranças - e aí são destaque os países em
desenvolvimento – acham politicamente interessante jogar a culpa na globalização pela extensão da crise que assola
a humanidade há mais de oito anos, esquecendo convenientemente que, em muitos
casos, o descalabro econômico – e suas conseqüências - é também resultado da
péssima governança de seus dirigentes, o Brasil no meio.
Em verdade, a globalização não tem pai nem mãe, não tem profetas
nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou responsabilidades. Tem,
isso sim, vítimas e aproveitadores.
Assim, através dos séculos, na sombra de toda teoria econômica,
esse fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de
tanta exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas,
quando os interesses dos que tudo podem encontraram o aliado ideal no casamento
da tecnologia com os mercados.
Para assombro, real ou fingido, de muitos de nossos mais doutos
economistas, a “crise” teve efeitos absolutamente impensáveis pelos
especialistas em prever os rumos da economia e a distribuição de riqueza: Nos últimos anos, os ricos -1% da
população mundial - ficaram substancialmente mais ricos. Já o restante da
sociedade sofreu uma diminuição de sua renda, com um aumento mais que
proporcional no número de pobres, remediados e miseráveis.
As pesquisas e análises sobre os efeitos da crise na distribuição
da riqueza se multiplicam sob os auspícios de prestigiosas universidades e
entidades internacionais como, por exemplo, um importante estudo conduzido pelos professores Emmanuel Saez
e Gabriel Zucman, da Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos) e
da LSE (Inglaterra) mostrando que os 0,1% americanos mais ricos ─ ou 160 mil
famílias, com patrimônio médio de cerca de US$ 73 milhões - detêm mais de um
quinto de toda a riqueza do país, ou o mesmo montante controlado pelos 90% dos
americanos mais pobres.
Existem todos os tipos de razões
pelas quais tais aumentos na desigualdade são preocupantes, e não apenas para
aqueles que estão na base da pirâmide de riqueza, senão que também por
lideranças esclarecidas que advertem que essa situação está no centro das
forças que empurram a uma boa parte da sociedade para a violência, a
insegurança, as drogas e uma descrença total nos valores mais apreciados da
condição humana. Assim, é previsível a ruptura do tecido social com suas
nefastas conseqüências.
Enfim, tem algo de muito errado na
forma em que a riqueza do mundo é distribuída, especialmente considerando que a
“crise” devia exercer seus efeitos malignos sobre todos proporcionalmente (em
teoria) e, na realidade, apenas aumentou as desigualdades.
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