sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

CRISE & EMPREGO

Gianni Vattino, notável pensador, especialista italiano de fama mundial em questões sociais, afirma: “uma mudança profunda, tal como uma revolução gestada na força de um destino irreversível, está socavando os laços tradicionais entre o emprego – que outrora foi porto seguro para a sobrevivência e o progresso familiar – e a empresa, agora assediada pela crise dos mercados. Nessa estrutura da economia, sobrou o trabalhador, relegado a peça dispensável, unidade de produção substituível e, portanto, descartável. E o emprego definitivo e estável está em vias de desaparecer para sempre”.

Na realidade, acho que o emprego estável só existe no setor público tradicional.

Bem, se a essa conjunção de forças que acuam os trabalhadores somamos os efeitos malignos da malfadada “crise” deste final de primeira década do Século XXI, temos sérios motivos para acelerar (já!) a implantação de novos mecanismos para gerar desenvolvimento sustentável, máxime que diariamente, o noticiário (sensacionalista às vezes, admitamos!) não deixa de registrar milhares de demissões, inclusive dentre aquelas empresas consideradas padrão de boa administração.

Os exemplos estão em todo o mundo, gerando conflitos inevitáveis de adaptação a uma nova ordem de relacionamentos entre o capital e o trabalho, ambos acuados por essa nova realidade que, numa face, estabelece a competitividade como símbolo máximo da excelência empresarial com sua implacável relação custo/benefício-máquina/homem; e noutra mostra a perversidade de uma equação nefasta: menos emprego, menos renda; menos renda, menos consumo; menos consumo, menos demanda; menos demanda, menos vendas; menos vendas, menos produção; menos produção, menos investimentos; menos investimentos, menos crescimento; menos crescimento, menos empresas, menos empresas, menos empregos.....

É assim por diante, num “modus perpetuo” , recomeça o círculo sinistro, cuja força de atração atrai de forma insensível para o desespero e a fome uma parcela significativa da sociedade.

É claro que existem mecanismos para solução desse paradoxo da sociedade moderna. Um deles, para aplicação imediata, seria a formação de exércitos de pequenos empresários – ex empregados - que, sob a égide do empreendedorismo encontram a motivação e os incentivos necessários para constituir pequenos empreendimentos para dar asas a sua vontade de sobreviver economicamente e gerar riquezas.

Sem esquecer que a pequena empresa tem, pelo menos, duas características especialmente positivas: a) a relação capital - empregos gerados é muito pequena, ou melhor, com pouco investimento são gerados muitos empregos, o que é a fórmula ideal para os países pobres e os emergentes, como o Brasil: b) sua inquestionável capacidade de distribuir renda.

Isso faz da pequena empresa uma fábrica de desenvolvimento economica e socialmente sustentável.

O mecanismo é muito simples: a) crédito abundante, a juros compatíveis com a função social do objetivo proposto, subsidiado se preciso; b) sistema eficaz de informação de negócios; c) menos burrocracia - com dois “rr” mesmo; d) lideranças, que em vez de gastar tempo e energia tentando achar bodes expiatórios, trabalhem com vigor e proclamem aos quatro ventos “nós podemos crescer mais, sim”.

Nada desses bem comportados 2,5% e similares - como muitos "analistas" teimam em estimar para 2009 - que mais servem para esconder incompetências que ações efetivas para fomentar o crescimento e a distribuição de renda.

(Por quaisquer dúvidas sobre crédito para pequenos empreendedores e receitas para o desenvolvimento, não ter receio em consultar ao Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus e o Banco Grameen, em Bangladesh).

Foto: Muhammad Yunus, um dos exemplos mundiais do novo capitalismo.

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