quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

DILEMA

La por 1972, Jigme Syngie Wangchuck, então rei do Butão – pequeno país encravado nas alturas dos Himalaias, esprimido entre a China e a India - idealizou o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), unindo preceitos budistas às expectativas que reservava para seu povo. Era, senão outra coisa, uma inovadora visão de que o verdadeiro progresso de uma coletividade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e reforçando mutuamente. Isso, em contraponto com o mecanismo clássico de medida da riqueza de uma nação, resumida no PIB (Produto Interno Bruto).

Quatro eram os pilares que amparavam esse novo conceito: A promoção de um desenvolvimento sócio-economico sustentável e igualitário; a conservação e proteção do meio ambiente natural; a preservação dos valores culturais; e o estabelecimento de uma boa governança. Nada mais e nada menos era necessário para o crescimento do FIB e, desse modo, sustentar o bemestar e a qualidade de vida da população.

É claro que o saber economico tradicional ignorou esse intruso que sabotava o dogma fundamental do sistema liberal&capitalista que tinha estabelecido a lei férrea dos mercados, sustentando que é preciso crescer continuamente, a qualquer custo, cada vez mais, e mais, e mais... sem limites. Oba! Mais consumo, mais riqueza, mais uso dos recursos naturais. E - nunca está demais para dar uma maozinha - muita desconfiança, insegurança, violência, discordia e muitos conflitos sangrentos, tudo para manterem aquecidos os mercados de segurança e de armamentos. Que são componentes muito importantes no modelo vigente.


 Mas, a grande contradição desse tipo de desenvolvimento econômico – que incorporamos sem questionamentos ao saber convencional - está no fato de que, enquanto a economia busca um crescimento infinito, os recursos naturais da Terra são limitados. Exemplo: se os 80% dos habitantes do planeta quisessem manter um padrão de vida parecido aos 20% melhor aquinhoados na escala de consumo, bem, seriam necessários, no mínimo, cinco planetas terra para atender essa demanda. Isso, hoje. Em 2050, com nove bilhões de seres humanos compartilhando bens e serviços deste conturbado mundo, temos que acrescentar mais três planetas. Seria mais que bemvindo um toque da deusa Avatar para solucionar esse dilema!

"Os economistas não perceberam um fato simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo, nem sua massa nem a extensão da superfície variam. O mesmo vale para a energia, água, terra, ar, mineral e outros recursos presentes no planeta. A Terra mal está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo", afirma o economista Herman Daly, professor da Universidade de Maryland e renomado especialista em sistemas econômicos.  Na mesma linha, C. K. Prahalad, consultor do governo da Índia, conclue que “o mundo caminha para o abismo porque, cedo ou tarde, a luta pela posse e o uso dos recursos naturais, que hoje ainda é dissimulada e administrada parcialmente pelos organismos internacionais e os governos das grandes nações, ocasionará conflitos de consequencias inimaginaveis. É necessário, com a maior urgencia, começar a discutir a mudança do modelo”. 

 È mais que evidente que, não mais que seja por simples motivo político, todos os paises procuram índices crescentes de desenvolvimento, sem dar muita atençaõ aos meios para conseguirem isso. Nada mais justo para 95% dos países do planeta, se isso leva a uma melhor distribuiçãom da renda e abolição da pobreza. Mas, na prática, o que observamos nas últimas decadas foi a concentração da riqueza em poucos países, nos quais, como é natural, grande parte de seus habitantes são condicionados a desfrutar de um ganho adequado e crescente, sem entender a existencia de limites naturais nos recursos disponíveis do Mãe Terra.

Alterar o sistema de geração de riquezas passa a ser uma imposição natural. Felizmente, os primeros passos já estão sendo dados e, pelo menos, nos questionamentos de muitos dos mais creditados foruns econômicos internacionais e nos movimentos que defendem o meio ambiente, a pressão por uma mudança começa a ganhar força. Mas, ninguém deve iludir-se: A luta para a construção de uma nova arquitetura econômicaserá longa, muito difícil, cheia de obstáculos e enfrentará a resistencia tenaz dos grupos mais poderosos do planeta.

Lembrete: O sistema atual tem na sua bagagem as manhas de quase 300 anos de existencia.   
       












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