quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NA ESTEIRA DA CRISE


Um alentado estudo do londrino “The Economist” - desde 1843, uma das bíblias do pensamento econômico ortodoxo - analisa a crise que açoita as grandes economias do planeta destacando a seguinte questão: “Os governos não podem repetir os erros do passado e adotar medidas recessivas que possam contribuir para o aprofundamento da crise que pretendem combater. É importante injetar confiança nos mercados e buscar soluções que possam afastar a possibilidade de uma recessão de conseqüências inimagináveis”.
Sem condições de girar – honrar seus compromissos – suas dívidas, os governos agora correm com o pires na mão para o refugio representado pelo BCE (Banco Central Europeu), que tenta evitar que o “sangue chegue ao rio” com o agravamento da convulsão generalizada, contando às vezes com uma ”mãozinha amiga” do FMI.
Essa estória repete, ainda que com outros tons e acordes, o acontecido no final da década passada, quando a economia mundial foi sacudida pelo terremoto financeiro iniciado pela volúpia do consumismo e da especulação, convenientemente turbinados pelos subprime           – “créditos podres” - para alegria de uns poucos e a desgraça de muitos. E, como não podia deixar de acontecer, alimentado pela cobiça, a negligencia e a falta de controles adequados nos grandes atores do sistema financeiro.
Nos últimos anos não faltaram compromissos solenes para implementação de ações concretas para tentar domar o potro selvagem da especulação e o descontrole financeiro, muitas das quais sacramentadas nas Cumes dos G20 – as 20 maiores economias do mundo - e nas reuniões de organismos multilaterais, como o BM (Banco Mundial) e o IFI (Instituto de Finanças Internacionais), que têm insistido na necessidade de medidas firmes para evitar o descontrole das dívidas soberanas, administradas (?) pelos Ministérios de Fazenda – ou equivalentes – de cada país.
Nessa, os bancos vão juntos, porque os governos são uma fonte de lucros que não se pode desprezar e os títulos de dívida pública rendem excelentes resultados. Claro, desde que sejam resgatados nos termos contratados. Senão...
Contudo a política (os políticos) e os interesses falam mais alto e os resultados ficaram a anos luz das intenções e, mais lamentável ainda, foi convenientemente esquecido que alguns governos usavam os mecanismos de crédito e endividamento além de sua capacidade de honrar esses compromissos no futuro, exemplo de quase todas as economias da Europa, que olvidaram, no altar do populismo, as sabias premissas de prudência no trato das finanças públicas.
De tal modo, não pode causar muita estranheza o tamanho descomunal dessa confusão que ameaça a saúde econômica do planeta por seu efeito dominó e que, de forma impiedosa, começa a mostrar as garras sombrias de uma recessão na esteira dos números assustadores de desempregados, as primeiras vítimas da inépcia dos políticos que agora buscam, no desespero, medidas que afastem os fantasmas que eles mesmos deram à luz. 
Nunca está demais recordar que vivemos num mundo onde todos, de uma forma ou outra, dependem de todos. E que, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor intensidade, recebemos os efeitos, positivos ou negativos, daquilo que acontece pelo mundo afora.
De tudo isso, os anêmicos indicadores do desenvolvimento do Brasil nos últimos trimestres podem ser explicados, em parte, pelo que está acontecendo no restante do globo.

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