quarta-feira, 31 de julho de 2013

ENCRUZILHADA


Zona de perigo
O objetivo fixado pela comunidade internacional na Conferencia Mundial sobre a Mudança Climática (Copenhague, dezembro 2009), é manter a temperatura media da terra em uma condição de no máximo +2°C em relação aos níveis registrados antes da era industrial, mais de 300 anos atrás. E advertem que caso os 2ºC sejam superados - o que pode acontecer como resultado de uma concentração excessiva na atmosfera de dióxido de carbono ** (CO2), notório vilão causador do efeito estufa, em nível anual médio igual ou superior 400 PPM (partes por milhão) - é possível prever que o “planeta entrará em um sistema climático marcado por fenômenos extremos”.
Presentemente, no mundo real, de acordo com os dados monitorados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, já existem registros de que esse limite foi alcançado no primeiro semestre de 2013 em boa parte do Hemisfério Norte, deixando o mundo em uma "zona de perigo".

A diretora das Nações Unidas para o Clima, Christiana Figueres, comenta esse resultado destacando: “O mundo tem que acordar e perceber o que isto significa para a segurança dos seres humanos, para seu bem-estar e seu desenvolvimento econômico” E assinala: “Ainda existe uma oportunidade para evitar os piores efeitos da mudança climática, sendo urgente que a comunidade internacional ofereça uma resposta eficaz para enfrentar este desafio".
Rajendra Pachauri, presidente do Painel, enfatiza: “Sem um pacto global, a Terra vai enfrentar as consequências da elevação das temperaturas, o que vai resultar na extinção de espécies de plantas e de animais, na inundação de cidades costeiras, em eventos climáticos extremos, em secas e na disseminação de doenças. As evidências são muito claras desses eventos catastróficos  e da necessidade urgente de ações para combater o aquecimento global”.

O sinal amarelo está acesso!

Pedras no caminho
Contudo, no longo e árduo caminho para alcançar um planeta mais limpo e seguro não podemos esquecer que inimigos poderosos estão à espreita, agrupados sob o rótulo genérico de interesses, sempre flanqueados pela insensibilidade, o egoísmo e a cobiça, unidos acintosamente para impedir ou, pelo menos retardar, a efetivação das medidas necessárias para cumprir esse objetivo que, no final das contas, é um passo fundamental na passagem para criação da civilização dos próximos séculos.
Em seu polêmico documentário, de 2006, Uma verdade Inconveniente, o vice-presidente do governo de Bill Clinton (1993-2001), Albert Arnold Gore, político, escritor, ativista ambiental e Premio Nobel da Paz em 2007, alertava para os danos causados ao planeta pelo aquecimento do clima e clamava por uma maior atenção dos governos para adoção de medidas urgentes para corrigir essa situação.
Uma verdade Inconveniente passou a ser a primeira mostra documentada deste Século de que algo anda muito mal e que são necessárias medidas urgentes e globais para deter essa ameaça que coloca em risco a sobrevivência de nossa civilização nos tempos que virão.

Outra verdade não dita, sem dúvida muito inconveniente, é que uma mudança no modo atual de produzir riqueza nos moldes que regem a economia do planeta – seja capitalista, seja socialista – pode ocasionar alterações radicais na geografia do poder globalizado, prejudicando sensivelmente o predomínio das nações mais poderosas e que, como decorrência, alberga os maiores interesses, politicamente guardados sob o guarda-chuva de “falar e prometer muito, porém fazer pouco” o que, na melhor das hipóteses, faz que o inevitável processo de transformação seja o mais lento possível.
De tal modo, com a ajuda indispensável da cortina de fumaça da promoção do bem-estar e do aumento do consumo, se ganha o tempo necessário para criar e consolidar monopólios, estratégias, sistemas, produtos, mercados, patentes e aperfeiçoar as organizações, tudo isso imprescindível para manter o “sistema” sob controle de seus atuais donos.

E para reflexionar destacamos dois fatos relevantes: 1) Desde que informações começaram a ser coletadas em 1979, o gelo marinho do Ártico – indicador importante de mudanças climáticas - atingiu sua menor extensão em 2012, com 3,41 milhões de km², valor esse 50% menor que a média 1979/2000, estabelecendo de tal modo um novo recorde negativo de cobertura durante o verão ( hemisfério norte); 2) Os dados do Instituto Nacional de Ciências Geofísicas da China, que vem monitorando a espessura da camada de gelo do Himalaia desde 1970, revelam que essa cobertura sofreu um decréscimo de quase 30% nos últimos 25 anos. Bem, não podemos esquecer que, para eles, o degelo do Himalaia é fonte de pouco mais de 70% das águas dos principais rios chineses – Yangtze e Amarelo – que irrigam a produção de grande parte das culturas que alimentam os 1.360 milhões de habitantes do Dragão Asiático. Lá também, literalmente, água é vida!

Ainda sobre o Ártico: Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Neve e Gelo (NSIDC) dos EE. UU avisa: "Nós estamos agora em território desconhecido. Ao mesmo tempo em que já sabíamos que à medida que o planeta se aquece, mudanças serão vistas primeiro e mais pronunciadamente no Ártico, poucos entre nós estavam preparados para a rapidez com  que essas mudanças iriam ocorrer. Isso tem impacto no clima do hemisfério norte, podendo resultar em condições extremas, como secas, ondas de calor e enchentes”.
A luta é contra o tempo. Falta saber se o paciente – a Mãe Terra – suportará os danos dessa demora
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Um sinal positivo

 Pelos seus efeitos potenciais, em um reconhecimento implícito do perigo que ronda a maior economia do mundo, o presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou recentemente ao Congresso Norte-Americano uma iniciativa de alcance extraordinário para redução de gases contaminantes e conversão gradual da indústria de seu país para o uso de energias alternativas não agressoras do meio ambiente. Um grande passo à frente pela nação que tem a (má) fama de ser o segundo maior poluidor do mundo. (A China já é o primeiro).

Em todo caso, aqui por nossas bandas, não está demais lembrar a Constituição da República Federativa do Brasil, no capítulo VI, Artigo 229: “Todos tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e dever de defendê-lo e à coletividade o de preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.  E complementa: “A Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e sua utilização será feita na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”
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Será que isso é obedecido plenamente?

Resumindo: Queiramos ou não, gostemos ou não, consciente ou inconscientemente, em menor ou maior grau, somos também responsáveis pelo perigo que nos ronda, desde que, de uma forma ou outra, todos somos (felizes?) usuários de nosso sistema de vida, construído “duela a quién duela” na trilha desse predador incansável chamado Homem.


**Os principais poluentes ambientais são: dióxido de carbono, chumbo, mercúrio, benzeno, enxofre, pesticidas, dioxinas e gás carbônico.

msnozar@yahoo.com.br

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