Forças à solta
A energia, desde tempos imemoriais, é o sangue que corre
pelas veias dos sistemas que preservam a vida dos seres que habitam o planeta, amenizando
seu longo caminhar pela sobrevivência e a continuidade das espécies.
Na odisseia da humanidade, desde as eras em que os músculos eram
um dos principais meios para prover as necessidades das espécies, o avanço do
conhecimento desse princípio-base na formação do universo levou, em particular
nos últimos três séculos, a dominar os “gênios da energia”, dando assim uma
contribuição decisiva para a formação da civilização de nosso tempo.
Contudo, no esforço para saciar o apetite voraz da vida
moderna e apoiado na ideia - que remonta dos tempos
distantes da Gênese - de que os seres humanos devem ter o domínio sobre a natureza,
aconteceram excessos imperdoáveis na exploração dos meios para produção e uso
da energia, quase sempre acobertados pela ânsia de ganância, o egoísmo e a
vontade de manter o domínio sobre um dos componentes vitais do sistema de
produzir riqueza.
Sob a guarda pretoriana de
interesses poderosíssimos – e, como conseqüência, com força para corromper e
impor seus desejos além de qualquer medida, – o petróleo e o carvão reinam nas entranhas da produção desse elemento
essencial de nosso modo de vida e que, na contramão, ocupam um lugar destacado
entre os principais determinantes do aquecimento do planeta.
A luta pela sobrevivência
A partir dessa lamentável
realidade não é de admirar que o mundo tenha hoje que levar adiante uma luta
decisiva contra esses assaltantes - fósseis obscuros como suas guaridas - que
são um claro atentado contra a qualidade de vida da geração atual e uma
manifesta ameaça para a salvaguarda das gerações futuras.
Nos últimos 25 anos, na medida de que se dissipavam as
dúvidas sobre os efeitos negativos do aquecimento do globo e a certeza do
perigo que isso representava para o futuro da humanidade, esforços relevantes foram
realizados para tentar controlar essa conjuntura, com ênfase especial na redução
da participação dos combustíveis fósseis na matriz energética, dando lugar a um
aumento substancial na produção de energia “limpa” - que batizamos de
“alternativa” – produzida a partir de elementos renováveis, não poluentes e
não agressores ao meio ambiente.
Essa nova forma de dominar os gênios da energia tem como
aliados importantes: 1) os avanços tecnológicos de produção de energia limpa,
com a diminuição de custos e aumento de sua eficiência; 2) a percepção que as
energias ditas alternativas são também um excelente negócio; 3)a pressão crescente
de grupos e entidades ambientalistas; 4) a conscientização da sociedade pela
importância da preservação ambiental e do muito que pode ser realizado no campo
energético; 5) a pressão política, ciente do perigo da perda de votos (poder)
caso esse clamor seja ignorado; 6) nova visão dos governos que são Interessados
- direta ou indiretamente, por motivações transparentes ou condenáveis - na
mudança para novas fontes que ofereçam alternativas ao petróleo e ao carvão; 7)
as flutuações de preços, sempre para cima, de combustíveis fósseis; 8) o
acumulo de dados científicos que comprovam que algo anda muito mal no clima da terra;
9) as constantes advertências dos organismos mais representativos e confiáveis
dos legítimos interesses da humanidade - a ONU é destaque - para os perigos do
aquecimento planetário; 10) o bom senso do saber convencional.
Esses fatos não significam
que, de uma hora para outra, será abandonado o uso de combustíveis fósseis na
produção de energia. O cambio será (muito, mas muito) lento, gradual e
enfrentará a feroz resistência dos fabulosos interesses criados encabeçados,
como é lógico, pelas maiores multinacionais do mundo e pelos países que
dependem desses materiais fósseis para obter uma parte importante de sua renda,
dentre os quais despontam algumas das maiores economias do planeta. EUA, China,
Rússia e Índia, entre outros, que tem nos combustíveis fósseis uma dão uma
idéia da magnitude da tarefa.
De qualquer modo, do
ponto de vista da economia global, tudo leva à conclusão que estamos no fim da energia barata, pelo menos
durante as próximas décadas.
O Brasil
No panorama mundial de produção de energia podemos
(orgulhosamente) afirmar que, como país, temos uma das matrizes melhor sustentáveis
do mundo, com uma participação de fontes renováveis superior aos 45%, frente a
uma média mundial de 13%.
E, no caso específico da energia elétrica, excluída a
geração nuclear, esse índice de sustentabilidade atinge os 85%, um recorde
mundial que pode muito bem servir de exemplo e incentivo para acelerar a
mutação planetária para um sistema mais amigável e indispensável para a
preservação de nosso meio ambiente, base da vida de ontem, de hoje e de nossos
sucessores.
A nosso favor temos, por um lado, para os motores de combustão
interna, os complementos do etanol e dos bio-combustíveis e, por outro lado,
para geração de energia elétrica, a água, a biomassa e os ventos garantem essa
participação que, se depender da natureza e dos projetos em andamento, tem tudo
para aumentar nos próximos anos.
msnozar@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário