sábado, 15 de fevereiro de 2014

UMA CORRENTE AMEAÇADORA


A globalização não tem pai nem mãe, não tem profetas nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou responsáveis. Simplesmente aconteceu em algum momento esquecido nos primórdios da humanidade quando os homens, na luta pela sobrevivência, buscavam pela violência ou pelo convencimento, partilhar os bens que as circunstancias e a natureza colocava a seu alcance.
Como não tem regras nem códigos para obedecer é livre para fazer o bem ou criar o mal, favorecer uns ou prejudicar outros, impulsionar ondas destruidoras – vide “crise” atual – ou permitir que o mundo desfrute da bonança do crescimento, como já aconteceu tantas vezes.

Como ente sem fronteiras que paira como um deus onipotente sobre todo o globo, exerce um poder indiscutível sobre todas as coisas que envolvem as relações econômicas e financeiras entre as nações. E tem nas empresas multinacionais suas fortalezas espalhadas por todo o mundo cumprindo seu papel de acumular riquezas e poder, assim como de minar a autoridade dos governos. E, no final das contas, são também a ponta de lança do “sistema” para aumentar a desigualdade planetária, fortemente acentuada nesses últimos anos.

É bem verdade que através dos séculos, na sombra de toda teoria econômica arquitetada pelo homem, esse fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de tanta exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas, quando os interesses dos que tudo podem encontraram o aliado ideal no casamento da tecnologia com os mercados. Bem, assim a folia que festeja essa união pode continuar através dos tempos, proporcionando sempre novas energias aos felizes parceiros.
Esses três paradigmas – interesses, tecnologia e mercados - têm como padrinhos de honra a indiferença, o egoísmo, a cobiça e um materialismo desenfreado que não conhece limites na sua volúpia de mais, sempre mais.

Esse é o lado obscuro da globalização, em luta permanente com sua face radiante que busca a paz, a qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável e a justa distribuição da riqueza universal. Que ainda é, para muitos, um sonho possível no caos de uma civilização que tropeça continuamente na sua jornada para um mundo melhor. 

De qualquer modo, a “crise globalizada” de nossos dias não deixa esquecer que todos dependemos de todos. E resulta importante destacar que tudo começou porque dezenas de políticos deixaram de lado os ditames da boa governança e tiveram nos banqueiros, sempre na caça de lucros crescentes, os aliados indispensáveis para ignorar os conselhos de prudência dos mais cautos. Naturalmente, para completar o circulo da felicidade, contaram com a colaboração de centenas de milhões de consumidores afoitos, daqueles que gastam mais do que podem.

Logicamente, com a “mão pra lá de amiga” da falta de ética – a corrupção desvairada é apenas um de seus efeitos colaterais – e da carência de normas adequadas para regular o sistema financeiro, sempre a postos para participar e liderar o grande cassino planetário.

Nota de rodapé para seu caderninho preto: as 500 maiores empresas e os detentores das 500 maiores fortunas do mundo são os verdadeiros donos do poder global, inclusive acima da autoridade e da força do Estado. E sempre, depois de cada “crise”, ficam muito mais ricos e poderosos. Ou seja: as famigeradas “crises” parecem ser um excelente adubo para os que tudo tem – empresas, pessoas – ganhem energia, poder e dinheiro... às custas daqueles que menos ou nada têm.
        Enfim, assim caminha a humanidade. Será que isso pode mudar um dia?



 



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