A globalização não tem pai nem
mãe, não tem profetas nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou
responsáveis. Simplesmente aconteceu em algum momento esquecido nos primórdios
da humanidade quando os homens, na luta pela sobrevivência, buscavam pela
violência ou pelo convencimento, partilhar os bens que as circunstancias e a
natureza colocava a seu alcance.
Como não tem regras nem códigos
para obedecer é livre para fazer o bem ou criar o mal, favorecer uns ou
prejudicar outros, impulsionar ondas destruidoras – vide “crise” atual – ou permitir que o mundo desfrute da
bonança do crescimento, como já aconteceu tantas vezes.
Como ente sem fronteiras que
paira como um deus onipotente sobre todo o globo, exerce um poder indiscutível
sobre todas as coisas que envolvem as relações econômicas e financeiras entre
as nações. E tem nas empresas multinacionais suas fortalezas espalhadas por
todo o mundo cumprindo seu papel de acumular riquezas e poder, assim como de
minar a autoridade dos governos. E, no final das contas, são também a ponta de
lança do “sistema” para aumentar a desigualdade
planetária, fortemente acentuada nesses últimos anos.
É bem verdade que através dos
séculos, na sombra de toda teoria econômica arquitetada pelo homem, esse
fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de tanta
exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas, quando
os interesses dos que tudo podem encontraram
o aliado ideal no casamento da
tecnologia com os mercados. Bem, assim a folia que festeja essa união pode
continuar através dos tempos, proporcionando sempre novas energias aos felizes
parceiros.
Esses
três paradigmas – interesses, tecnologia
e mercados - têm como padrinhos de honra a indiferença, o egoísmo, a cobiça
e um materialismo desenfreado que não conhece limites na sua volúpia de mais, sempre mais.
Esse
é o lado obscuro da globalização, em luta permanente com sua face radiante que
busca a paz, a qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável e a justa
distribuição da riqueza universal. Que ainda é, para muitos, um sonho possível
no caos de uma civilização que tropeça continuamente na sua jornada para um
mundo melhor.
De
qualquer modo, a “crise globalizada” de nossos dias não deixa esquecer que todos dependemos de todos. E resulta
importante destacar que tudo começou porque dezenas de políticos deixaram de
lado os ditames da boa governança e tiveram nos banqueiros, sempre na caça de
lucros crescentes, os aliados indispensáveis para ignorar os conselhos de
prudência dos mais cautos. Naturalmente, para completar o circulo da
felicidade, contaram com a colaboração de centenas de milhões de consumidores
afoitos, daqueles que gastam mais do que
podem.
Logicamente,
com a “mão pra lá de amiga” da falta de
ética – a corrupção desvairada é apenas um de seus efeitos colaterais – e
da carência de normas adequadas para
regular o sistema financeiro, sempre a postos para participar e liderar o
grande cassino planetário.
Nota de rodapé para seu caderninho preto: as
500 maiores empresas e os detentores das 500 maiores fortunas do mundo são os verdadeiros donos do poder
global, inclusive acima da autoridade e da força do Estado. E sempre,
depois de cada “crise”, ficam muito mais ricos e poderosos. Ou seja: as
famigeradas “crises” parecem ser um excelente adubo para os que tudo tem – empresas, pessoas – ganhem energia, poder e
dinheiro... às custas daqueles que menos ou nada têm.
Enfim, assim caminha a humanidade. Será
que isso pode mudar um dia?
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