Agonia
Muitos afirmam – provavelmente
com razão – que os anos recentes, notadamente a partir de 2008, serão lembrados
além de palco da primeira catástrofe econômica do Século XXI como o
período do início do fim do capitalismo, pelo menos tal como o conhecemos
hoje, dependente que é do poder anônimo, tirânico e absoluto do “deus
mercado”, que dita as regras e a forma do “sistema”.
Até
pode ser. Mas já não restam dúvidas: Está chegando a hora de questionar os
antigos dogmas que ditam a forma de produzir e distribuir riquezas e
que, de um modo ou outro, conseguiram entronizar nos últimos três séculos o “mercado”
como a verdade suprema do saber e fazer econômico.
Em
resumo, “coisas do sistema” – institucionalizado praticamente na segunda década do Século XX
no fragor da 1ª Guerra Mundial – e que, queiramos ou não, gostemos ou não,
governa a economia do Planeta, fielmente protegido por umas 5.000 grandes
organizações internacionais. E, como é natural, por milhões de ingênuos,
entremeados por aproveitadores e corruptos.
O efeito colateral
Em recente relatório, a Oxfam, organização líder mundial na
sistematização e análise de informações sobre distribuição da riqueza
globalizada e que assessora a ONU sobre o tema, publica dados que revelam claramente
que vivemos num mundo profundamente desigual, donde apenas 1% da população mundial
acumula 99% da riqueza planetária.
Pior ainda: Entre esses
privilegiados, menos de uma centena dos “mais mais”, concentra 50% dessa
fortuna! O que, trocado a miúdos, possui um poder financeiro superior ao de
qualquer país, inclusive os EUA!
No seu informe anual (Uma
economia a serviço de 1%) a entidade
revela que essa concentração de riqueza não para de aumentar e que as crises
que assolaram o mundo desde 1990 foram substancialmente favoráveis aos mais
abastados. Ou, de outro modo: Num “sistema” que suporta 200 milhões de
desempregados e cinco vezes mais de famintos e desamparados, nesses últimos 25
anos os mais endinheirados da Terra simplesmente duplicaram sua fortuna!
Joseph Stiglitz, Premio Nobel de Economia, afirmou em recente artigo
no New York Times: “Desde os anos 80, o capitalismo foi fortemente
desregulado ao estilo americano, logo imitado pelos demais países ricos. Na
verdade, a promoção dessa ideologia trouxe bem-estar material para os ricos do
mundo, enquanto os demais viram sua renda estagnar ou diminuir ano
após ano.
Tempo de mudança?
Análises categorizadas patrocinadas
pela Nações Unidas são unânimes em afirmar que o aumento das desigualdades de
ingressos em todo o mundo é um dos fatores básicos que contribuem para
ampliação do conjunto calamitoso das mazelas sociais – violência, consumo de
drogas, prostituição, corrupção, impunidade, insegurança, racismo, descrença
nos valores éticos, desemprego, etc. – que travam um desenvolvimento contínuo,
sustentável e livre de crises, essencial para conservar uma condição de vida
que mantenha viva a esperança de um futuro melhor.
Quem sabe, numa reviravolta histórica e
atropelados por essa cruel realidade, as lideranças planetárias concordem com a
ideia que tem chegado o momento de dar início a uma mudança no modo de fazer e
de distribuir riqueza nesse Século XXI.
Para começar, podemos mudar para
algo próximo à recomendação da ONU para uma economia sustentável, que é “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade
social ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais
e a escassez ecológica. Sustenta-se sobre três pilares: é pouco intensiva em
carbono; é eficiente no uso dos recursos naturais; é socialmente inclusiva”.
(Repito
a lembrança. É importante!).
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